segunda-feira, 30 de setembro de 2013
[O cão tabagista conversou com…] Jonathas Filho: “a vida tem certas ironias que, perguntadas, só fazem sentido muito depois”
Meu nome completo é Jonathas Ribeiro Antunes Filho, natural de Rio de Janeiro, Brasil,
nascido no subúrbio de Anchieta, RJ, em 03 de Setembro de 1945. Aos meus sete
anos nossa família mudou-se para a Glória, e do prédio onde morava eu via os
pousos de DC-3, Skandias, Curtis Comanders, C-82, DC-4, Convairs e outros
aviões.
Fiz todo o primário, agora 1º grau, na Escola 3-2
Deodoro, na Glória, RJ, e após passar no Exame de Admissão em 3 colégios, fui
estudar no Colégio Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, RJ, no início, na
parte diurna e, posteriormente, na noturna, pois comecei a trabalhar cedo numa
loja de passagens chamada Aerolândia (seria outro sinal?), na esquina da Avenida
Rio Branco com a Rua Santa Luzia, no Centro. Trabalhei também na G.E e na Siga
Turismo, de onde saí para "sentar praça" na Aeronáutica. Fiz toda a fase
de recrutamento na Escola de Aeronáutica, hoje Academia da Força Aérea, no
Campo dos Afonsos, RJ. Após o recrutamento fui terminar de servir a Pátria no
Instituto de Seleção Controle e Pesquisa, hoje CEMAL, que ainda estava
localizado no prédio do Ministério da Aeronáutica, próximo ao SDU. Mais outro
sinal?
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4º ano primário |
Um dia, um cliente que eu tinha ajudado na
aquisição de um carro, me perguntou se eu não queria sair da mesmice e
abandonar a rotina. Era um flight
engineer dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, que depois foi para a
Transbrasil onde saiu Comandante de B-767 e se aposentou pelo Aerus. É meu
amigo de longa data, e numa das últimas manifestações eu o encontrei e tiramos
fotos juntos. Quanto ao convite dele, não disse que sim ou que não, mas guardei
o impresso com a proposta, a qual preenchi e enviei posteriormente para a
Escola de Comissários da Cruzeiro do Sul. Dias depois, fui chamado para uma
entrevista de avaliação, na Urca, no mesmo prédio onde posteriormente também dei
expediente. Fui avaliado que poderia fazer os exames médicos na Aeronáutica; os
fiz e fui considerado "apto para o fim a que se destina”. Comecei o curso
de três meses no final de 1969, fui aprovado pelo antigo D.A.C. em 1º lugar e
comecei a "voar" no princípio de 1970.
Qual foi o seu primeiro voo?
Fiz um CWB (Curitiba) bate e volta, na minha
tripulação estava uma comissária que foi minha colega de curso, que em 1972
casou-se comigo e continua me servindo breakfast
com ovos mexidos há mais de 41 anos. Meu nome de guerra na Cruzeiro era só Jonathas, pois o número de tripulantes
era bem pequeno se comparado com o número desses profissionais na Pioneira.
Que equipamentos voou na
Cruzeiro?
Voei YS11-A, Caravelle VI-R, B-727-100, B-737-200,
DC-9 Super 80 e Airbus A-300-B4.
E quando foi para a Varig?
Em 1975, a FRB – Fundação Ruben Berta, holding de
várias empresas incluindo a Varig, comprou a Cruzeiro. Mas não começamos a voar
juntos como foi veiculado. No princípio foram demitidos os colegas mais novos
da Cruzeiro e admitidos na Varig no dia seguinte. Restaram aqueles com mais
tempo, e fomos ficando sem trilhos (voos que a Varig adicionava à sua rede), e
nessa época eu fui convidado para dar instrução a bordo, tanto nos aviões Varig
como nos da Cruzeiro, nos voos de B-707 e posteriormente no A-300 e B-767-300.
Todos os comissários mais antigos da Cruzeiro
foram demitidos num dia de julho de 1985 e admitidos no dia seguinte, na Varig,
com a matrícula 59 mil. Meu nome de guerra passou a ser Jonathas Filho.
Como foi a adaptação à
Varig?
Durante todo o período de entrosamento, para ser
sincero, sofremos uma espécie de preconceito, pois tínhamos sido da Cruzeiro et pour cause considerados menos capazes
do que os "nativos" variguianos. Mas isso não partia de quem voava
DC-10 ou B-747. Era de uma turma de "garotos e garotas jovens com apenas
alguns meses de praia" que voavam A-300 e B-767, pois ainda sem saber o
porquê da nossa passagem para a Varig temiam pelos seus empregos dado ao número
e à contingência. Incrível, mas tinha gente que foi admitida em dezembro de
1985 que tinha tal preconceito e era até mais nova que nós na própria Varig.
Cochichava-se: ele é matrícula 59.000, ex-Cruzeiro.
Já na Varig como foi a sua
carreira?
Nessa época fui convidado pelo Sr. Sérgio Prates, Diretor
do Serviço de Bordo, para ser Assistente Técnico dos Equipamentos B-767 e A-300,
no prédio do SDU (Santos Dumont) e posteriormente no prédio da Urca. Lá
trabalhei com os gerentes de HV-Gerência do Comissariado de Voo: Sr. NORTON
Osório, Dona ALICE Editha KLAUS, Clement CLIMIS Theodoridis e REIS MOREIRA,
quando retornei à linha. Apesar de trabalhar em HV, fazia dois ou três voos
mensais, quando isso era possível, e voava na função. Comecei a estudar coreano
e fiz uma primeira prova dez meses depois tirando nota 5,5 e não fui para a
pretendida Rota LAX. Estudei mais, em casa, nos pernoites, com fitas cassete, vi
filmes coreanos, até música gospel coreana cantei. Mais quatro meses fiz outra
prova e tirei 7 que me guindou à Rota LAX, e ainda assim continuei estudando.
Em 1989 me inscrevi para o Baseamento de Los
Angeles e para lá fui em 1º de Maio de 1990 para passar 3 anos. Minha família
foi comigo, incluindo a minha doce Warm
of Tropical Sun, uma "cã" Schnnauzzer maravilhosa que nos fez
companhia por 13 anos. Morei em Torrance nesse tempo. Minha filha estudou e
trabalhou lá e meu filho fez o High
School também. Eu tinha um amigo coreano, Mr. Park, na Jefferson School, onde fiz o "Americanization Course" e ele precisava de algumas dicas de
inglês e eu de coreano, daí a amizade propiciada pela afinidade. Quando
voltamos para o Rio de Janeiro, em maio de 1993, minha filha ficou em Los
Angeles e hoje está formada pela University
of Long Beach como Master Doctor of
Dance, trabalhando, casada e com dois netos meus de 10 e 7 years old. Meu filho voltou antes e fez
Artes Plásticas na UFRJ. Casou, separou, mas tem uma filha que é a jóia da
Coroa: talentosa e inteligente, uma criatura ímpar.
Voltei a voar na Rota Lax e em 1994 fui solicitado
para ir pra Hong Kong para passar seis meses. Adorei. Minha mulher me
acompanhou nesse baseamento também. Conheci aquela parte da China, fui a Lantau
Island, fui à Tailândia de G.C. curtir a Ilha de Phuket, fui a Sun City na
Africa do Sul…
Num dos voos, de Joanesburgo para Hong Kong, o querido
Herculano teve uma síncope indo ao óbito em poucos segundos. Eu passava por ele
no momento e prestei os primeiros socorros juntamente com o Comissário Wei, com
massagem cardíaca e respiração boca a boca, igual ao procedimento que
anualmente fazíamos nas reciclagens do CTC. Tudo em vão. Mais tarde, vim a
saber que o coração do Herculano "rasgou, rompeu-se" o que pode ter
sido causado pela pressão exagerada em um dos átrios, conforme nos disse
posteriormente o despacho de Bangkok.
Retornei desse baseamento e meses depois fui para
o mini-baseamento em LAX. Aluguei um pequeno studio em Redondo Beach perto da casa da minha filha, e assim nem
aluguei ou comprei carro pois usava o dela enquanto ela trabalhava. Nessa
época, eu e minha mulher nos divertimos mais pois as "crianças" não
eram mais crianças e não estavam presas à saia da mãe.
Retornei em 31 de Dezembro de 1995 e novamente à
Rota LAX. Como já tinha tempo suficiente para me aposentar pelo Aerus (já
estava aposentado pelo INSS há alguns anos) pensei que seria uma boa oportunidade
voltar a estudar e fazer uma faculdade, talvez Medicina, who knows? Voei mais um mês e tive de pedir demissão pois não
quiseram fazer o acordo do Programa de Aposentadoria Voluntária da Varig para
me aposentar pelo Aerus, o que ocorreu em 31 de Janeiro de 1996.
Tem alguma (ou algumas) lembrança relevante de
pernoite que queira dividir conosco?
Que me desculpem alguns colegas que, mesmo em voos
com pernoites de dias inativos, se encerravam em seus leitos e só eram vistos
na apresentação para o voo de retorno. Alguns diziam que o sono os “alimentava”.
Particularmente, eu tenho muitas recordações de
pernoites, recheados de alegria, diversão e outras situações que exponho a
seguir.
Os voos com dias inativos, ainda na fase em que eu
voava na Cruzeiro, principalmente Belém e Manaus, onde o almoço e o jantar eram
sempre uma verdadeira reunião de amigos que se entretinham por horas,
conversando e contando casos. Manaus, no princípio da Zona Franca, era sempre
um convite para se adquirir uma camisa Lacoste,
um relógio Seiko, uma câmera Olympus ou um tênis All Star, dentre outras novidades.
Ponto especial para o Tambaqui excelentemente
preparado no Hotel Amazonas.
Belém tinha a feira do Ver-o-Peso onde nós
comprávamos Dourados, Filhotes, e outros peixes para fazer na brasa ou em
caldeirada no Hotel Selton. Nesse hotel, além da piscina havia uma quadra de
areia com rede para jogarmos vôlei, e isso sempre foi uma das melhores
diversões matinais em Belém.
Em Recife ou Fortaleza, as praias caprichosamente
nos levavam a consumir peixes fritos e cervejas, ali mesmo, debaixo da barraca,
na areia.
Em Buenos Aires, ainda no Caravelle da Cruzeiro,
os pernoites eram muito especiais em termos de carne e “bife de chorizo y papas fritas” era o pedido normal de todo
tripulante. Ir à “La Boca”, bairro boêmio e escutar um “tangozo” e vê-lo
dançado por exímios dançarinos era o “must”.
Na fase internacional, os inativos em Miami, nos
primeiros voos de Airbus, passavam-se 3 dias e muitos foram consumidos em
visitas à Disneyworld, ao Sea Aquarium, em Miami Beach, Ball Harbour, Fort Lauderdale,
Key West e outros lugares. Posso dizer que a Flórida é linda.
Nos dias inativos em Montreal, na fase do
B-767-300ER, era super interessante. Uma cidade subterrânea onde o frio e a
neve não são convidados. Restaurantes, lojas, boates, cinemas, supermercados,
tem de tudo lá em baixo incluindo igrejas. O povo canadense além de
hospitaleiro é alegre e solidário. A piscina aquecida no último andar do
Sheraton era uma delícia.
Na rota LAX, em Los Angeles, aprendi a dirigir como “gente educada no trânsito”. Os inativos aconteciam vez ou outra mas, na maioria das vezes, era chegar, tomar banho, ir à Fourth Street fazer compras, comer no Sizzler, ir a Hollywood ou na Rodeo Drive, jantar e dormir para estar “inteiro” na volta para o GIG ou SAO.
Na rota LAX, em Los Angeles, aprendi a dirigir como “gente educada no trânsito”. Os inativos aconteciam vez ou outra mas, na maioria das vezes, era chegar, tomar banho, ir à Fourth Street fazer compras, comer no Sizzler, ir a Hollywood ou na Rodeo Drive, jantar e dormir para estar “inteiro” na volta para o GIG ou SAO.
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El Segundo, Los Angeles |
No baseamento em Los Angeles, os pernoites sempre eram
a garantia de alegria, pois tínhamos inativos em Narita e Tóquio e
posteriormente em Nagoia.
Além dos magníficos Templos, o metrô de Tóquio, cuja
malha é imensa, só não nos levou à Lua. Até ir ao mercado era uma diversão.
Tudo limpo, arrumado e espaçoso como uma sala de cirurgia. As lojas, um
requinte. Tem estações de metrô em tudo que é lugar. Tem bairros que só vendem
tecidos, linhas, botões, agulhas e correlatos. Em Akihabara, só eletrônicos, desde
pequenas resistências simples até chips diminutos, além das aparelhagens de áudio
& vídeo e foto, cada vez menores. Tem um que é só de brinquedos, uma verdadeira
loucura para crianças e adultos. E é claro, Shinjuco... o bairro da noite com
muitas casas de diversões, boates, cinemas e bares.
Em Joanesburgo, durante o Baseamento HKG tínhamos
dias inativos e conhecemos Sun City que fica afastada umas 3 horas de JNB e
muitos foram ao National Park Kruger Safari ver os animais ao vivo e soltos.
Conheci Soweto, a maior favela do mundo criada pela segregação racial.
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Castelo de Nagoia |
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O Grande Buda de Kamakura (Kamakura Daibutsu) |
Em Joanesburgo, presenciei com a minha mulher,
sentado à mesa do restaurante do Hotel em que pernoitávamos, uma cena de
discriminação racial praticada mesmo após a eleição de Nelson Mandela como
Presidente da República Sul-africana. Um senhor negro não sul-africano e sua
acompanhante (me parecia esposa), ele num elegante terno e ela com um vestido
que poderia ter sido produzido por um grande estilista internacional,
sentaram-se à mesa ao lado da nossa e no segundo seguinte, um garçom, também
negro, lhes sussurrou que não poderiam sentar ali, pois era uma área reservada
só para brancos e lhes encaminhou para um local externo com mesas e cadeiras. O
local designado estava totalmente vazio. Fiquei estarrecido, envergonhado e
decepcionado. Minha mulher idem pois
pensava que o apartheid era coisa do passado, mas ainda estava vigente... e
como.
No baseamento
Hong Kong ficamos no Hotel Panda, em Kowloon, e conheci bastantes coisas,
vários templos, sendo o “Ten Thousand Bhudas” o que mais me chamou a atenção; o
mercado de peixes (vivos) mais interessante que eu vi com todas as espécies
exóticas de animais marinhos que jamais pensei que existissem; a Temple Street uma espécie de camelódromo
muito grande onde alfaiates fazem ternos em uma hora e onde se vende de tudo; a
rua dos pássaros ornamentais e gaiolas artesanais lindíssimas; o metrô que
depois que sai da parte continental tem uma parte submersa de mais ou menos 10
minutos, que nos leva até à ilha de Hong Kong com imensos arranha-céus de uma
arquitetura futurista.
Uma cultura completamente diferente, milhões de
pessoas disputando o espaço para dormir, verdadeiros edifícios dormitórios,
vários moradores por unidade se revezando em turnos, pois quem trabalha muito
cedo dorme durante a tarde, quem trabalha à tarde só vai dormir na cama daquele
que saiu para trabalhar à noite.
Culturas diferentes, alimentos diferentes, vidas
diferentes. Numa oportunidade, vimos uma mulher entrar numa lojinha que parecia
um pequeno galinheiro e vimos o que ela pediu em chinês. Era um lagarto vivo de
mais ou menos trinta centímetros que o “açougueiro” pegou dentro de uma jaula,
cortou-lhe a cabeça, o rabo e as pernas, embrulhou num papel e entregou o resto
do corpo do bicho à mulher que sequer piscou. Ela pagou, agradeceu e saiu. Eu e
minha mulher ficamos boquiabertos e fomos comer um fast-food no MacDonald’s
próximo.
A maioria dos restaurantes tem patos laqueados que
parecem ter sido aplainados por uma motoniveladora. As meias-bandas de porcos
“reluzentes” já assados também ficam expostas nas portas dos restaurantes. Comi
umas vezes e é muito agradável o sabor. As comidas ocidentais são caras e yakisoba é sempre uma solução.
Abraçou outra atividade
depois da aposentadoria?
Voltei a estudar, mas a vida tem certas ironias
que, perguntadas, só fazem sentido muito depois. Circunstâncias à parte, tive
de voltar a trabalhar, em 2006 meus ganhos do Aerus caíram drasticamente e
resolvi não estudar mais. Ficamos, eu e minha mulher, sem um plano de saúde
decente que nos permitisse internações se necessárias fossem. Até o momento,
graças a Deus e à nossa natureza, não precisamos. Passei a fazer academia,
malhando de segunda a sexta na musculação e corrida em esteira. Voltei aos
estudos, mas via internet e pelos livros que me agreguem conhecimento. Parei
definitivamente de trabalhar em 2010, pois o que eu fazia era por demais
estressante, e antes de morrer de enfarte preferi reduzir o meu orçamento
mensal ao máximo para poder ainda ter alguma paz nessa minha caminhada. Como
diria Lulu Santos, "vamos nos permitir", certo?

Você se aposentou em 1996. Como acompanhou, depois, o desfalecer da Empresa?
Por morar na Ilha do Governador, onde mora uma
grande quantidade de ex-variguianos colegas de voo e aeroviários, vivemos nos
encontrando por acaso em supermercados, em lojas, até em consultórios médicos e
feiras. Nesse “vai e vem” do dia a dia nós temos o prazer de conversar e
intercambiar informações. Assim sendo, fomos pouco a pouco nos informando ou
por esses encontros ou por e-mails que sempre trocávamos.
Um fato à parte: em 2002, quando eu aguardava o
atendimento no consultório de um cardiologista, uma colega de voo, coreana, que
voou várias vezes comigo na Rota LAX, lá apareceu para uma consulta acompanhada
pelo marido. Ela me apresentou a ele e conversamos “amenidades” até que ele me
perguntou se eu era participante do Aerus. Disse-lhe que sim e ele confidenciou-me
que tinha “mandado” que ela, a esposa, saísse do Aerus o mais rapidamente
possível e que retirasse os valores que lhe tinham sido descontados, pois o
fundo de pensão estava literalmente quebrado. Semanas atrás, naquela época, eu havia
recebido via correio um folheto do Aerus com o resultado de auditoria executada
por profissionais de uma empresa de âmbito internacional, e por isso achei que
ele devia ter “avaliado” muito mal as informações que foram passadas para ele.
Eu sabia que a Varig enfrentava uma crise, mas isso era cíclico na Varig, vez
por outra a palavra crise aparecia
para ser utilizada como “barganha”, principalmente quando próximas estavam as
negociações de reajustes salariais e/ou dissídios coletivos da categoria.
Até aí tudo bem, mas o Aerus estava bem, segundo
os Auditores. Lembro disso até hoje e serviu-me de “mote” para escrever sobre
as maquiagens da realidade. Quanto deve ter “custado” essa Auditoria? Alguém
sabe? Alguém viu?
Voltando ao acompanhamento do “apagar das luzes”,
a minha lista de contatos de e-mail não é extensa, mas diariamente trocava
correspondências eletrônicas com colegas da Varig, no Rio de Janeiro, Niterói,
São Paulo, Paraná, Sorocaba, Manaus, Belém e de outras cidades no Brasil afora,
assim como em Los Angeles e em Paris. Com o advento das redes sociais,
estendemos isso de forma exponencial, e hoje em dia quase todos os internautas
acabam tendo um “milhão” de amigos around
the world, recebendo ou transmitindo informações quase que imediatas ao
acontecimento, tipo assim: “aqui está chovendo e aí em Lisboa, como está?”
Sempre acompanhei de perto o que ocorria na Varig,
independente de ter as minhas três passagens GC que utilizava para viajar,
principalmente para Los Angeles, onde minha filha reside. Infelizmente isso
acabou em 2006. Mesmo que eu não estivesse focado no caso assuntos como este
normalmente nos “procuram”, principalmente se você, apesar de afastado, ainda
mantém uma relação muito próxima e estreita com o trabalho que executava. Me
preocupava e me entristecia assistir a tudo o que aconteceu e ser impotente,
não poder fazer nada, a não ser esperar que melhoras ocorressem. Quando soube
que um grupo de colegas se propuseram a comprar a Varig e isso não ter sido
aceito, me doeu terrivelmente. Depois vi a empresa ser “vendida” a preço de
bananas podres para um grupo denominado pela própria imprensa como “abutres”,
para depois ser revendida a outra empresa congênere.
Mas, muita coisa ainda não aparecia, não era
mencionado na imprensa e mesmo para aqueles que estiveram em cima do epicentro
desse “terremoto”, pouca coisa importante foi conhecida naquela época. Até hoje
em dia, muita coisa ainda não ficou esclarecida. Como sempre, podemos saber
muito, mas jamais saberemos tudo!
Recentemente, em Julho de 2013, a revista Piauí,
na sua edição nº 82, publicou “A disputa que matou a Varig” que conta minuciosamente todos os ventos
ascendentes e descendentes, raios e trovões, CBs e o mau funcionamento dos
instrumentos dos painéis no cockpit que levaram a nossa kirida VARIG a gritar mayday, mayday, mayday...
O pessoal que deveria cuidar de todo esse “espaço
aéreo” sequer instruiu os rádios-faróis que sinalizassem e/ou informassem as
situações de alerta ou o incerta. Não emitiram um som, um aviso.
Quem é (foi) esse pessoal
que deveria cuidar de todo esse “espaço aéreo”?
Não vou me estender em considerações sobre a
Administração da Varig logo após a grande crise do petróleo em 1979.
A questão do salvamento da Varig sempre esteve
ligada a interesses políticos e não a considerações técnicas, mesmo ela sendo
empresa de bandeira, cuja função estratégica era muito maior do que as dívidas
que ela tinha. Hoje, as perdas de divisas atingem bilhões de dólares anuais que
poderiam estar entrando no país e não indo para outros mercados internacionais.
Sendo breve, quem, ou melhor, “quens”: São todos
aqueles que tinham o poder de adotar medidas e/ou ter considerados e aceitos os
acordos propostos para resolver a situação que era clamorosa e iminente... não
tomaram quaisquer atitudes com o intuito de salvar a Varig.
Perdemos o ar e, consequentemente, perdemos o chão
com a perda do nome e do símbolo brasileiro que era conhecido nos quatro cantos
do mundo e nos proporcionava admiração e orgulho.
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