OLHAR DIALÉTICO DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA GAÚCHA
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DO JORNAL AGRISÊNIOR NOTÍCIAS
OLHAR DIALÉTICO DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA GAÚCHA
Manoel Moacir C. Macêdo; Manoel M. Tourinho & Gutemberg A. D. Guerra
Os autores, são agrônomos, cristãos e respectivamente PhDs pela University of Sussex,
Inglaterra; University of Wisconsin, Estados Unidos; e École des Hautes Éstudes, França.
Algemado em suas raízes históricas, o
Brasil é um País majoritária e oficialmente
cristão. É o país com maior percentual de
crentes do planeta, pois 81% desse universo
declaram acreditar em Deus. A utopia de
“amar ao próximo, como a si mesmo” se
expõe à pro-sociabilidade, como caminho
para superar as desigualdades sociais.
A expressão de solidariedade do
conjunto do povo brasileiro à tragédia
climática no estado do Rio Grande do Sul não
será suficiente se permanecer limitada àquele
estado, pois exige uma profunda revisão da
postura nacional frente às necessidades de
uma justiça climática e ambiental. A surpresa
não é somente com as históricas secas do
Nordeste brasileiro, onde sessenta milhões
das filhas e filhos do mesmo Deus das
gaúchas e gaúchos, padecem secularmente,
não pelo excesso, mas pela carência de
chuva, alimento, terra, moradia, educação e
saúde. A pauta concentra nas ações dos
responsáveis pela coletividade na prevenção,
inteligência, e contenção de ameaças de
tragédias como a atual. Conhecida a
liberalidade das restrições ambientais e
flexibilidade a qualquer produção agrícola por
entes municipais, estaduais e federal, sem
considerar a nossa sociedade profundamente
marcada pela desigualdade.
Não se trata de fazer comparações
entre quem sofre mais ou menos, mas tornar
claras as responsabilidades de quem deve
cuidar das pessoas por igual. Não está em
julgamento o eventual “choro dos alvos e
gordos” e nem os “sofreres dos esquálidos
pretos e pardos”. Uns do Sul, outros do
Nordeste, mas todos de uma mesma
geografia reencarnatória. Na dialética cristã
não pode prosperar o separatismo por cor,
raça, procedência nem por opção sexual. Ao
contrário, deve avançar para mais integração
de um só povo pretensamente ungido como
irmãos pelo sinal da Santa Cruz. Aqui se diz
que “Deus é brasileiro, coração do mundo e
pátria do Evangelho”. A igualdade em sua
amplitude cristã deve ser a âncora dos povos
onde quer que estejam. Sinal igual de
integração deve ser dado àqueles modos de
produção que expressam a suavização das
desigualdades sociais, afastando antigas e
novas marginalizações fincadas na
distribuição da riqueza.
Sul e Nordeste de um país continental
como o Brasil, expressam contingências
sociais distintas. História, sociologia,
antropologia, economia e política, são
dialeticamente opostas. No primeiro,
simplificadamente, os solos são férteis, a
maioria da gente alva e o sol generoso. No
segundo, a aridez, a gente preta e tostada
pelo sol cáustico. No Sul, é marcante a
influência dos imigrantes europeus brancos e
livres, no Nordeste, os autóctones e pretos
por muito tempo escravizados. Não são
determinismos históricos, mas situações
circunstanciais, regidas pela lei moral de uma
duvidosa concepção de progresso.
Considerando o PIB - Produto Interno
Bruto, o Rio Grande do Sul é o quinto estado
mais rico, entre as vinte e sete unidades
federativas do Brasil. Similar opulência na
produção agropecuária. Esses índices
projetam o Brasil como a nona economia
global. Essas unidades federativas não são
similares nem no IDH – Índice de
Desenvolvimento Humano, nem no PIB e
menos ainda na distribuição da riqueza.
Existe um persistente fosso de bem-estar
entre eles. Como está sendo manejada essa
riqueza? pergunta-se. De onde vieram os
“homens sem-terra para as terras sem
homens” quando da ocupação subordinativa
da Amazônia? A unidade recai
compulsoriamente, nos cuidados do estado,
com o povo varonil do Norte ao Sul, do Leste
ao Oeste de um único País. Não é justificável
e nem moralmente aceitáveis tão distintos
acolhimentos em tragédias, tal qual as
enchentes e as secas, de um mesmo povo.
Pecado capital que merece a excomunhão
cristã.
No senso comum, predominam, pelos
que muito tem, o sentido do Estado como
estrutura degenerada, corrupta e desprezível
ao desenvolvimento. Diferente dos que pouco
possuem, que colhem o Estado como o único
alívio às necessidades básicas do viver,
como saúde, educação e moradia, entre
outros direito sociais e constitucionais. Na
práxis são letras mortas, qualificadas como
expectativas de direitos. O caso da tragédia
do Rio Grande do Sul é uma inexorável
evidência. De imediato os três poderes da
República agiram e colocaram em ação as
suas organizações e a soma de sessenta
bilhões de reais. Outros privilégios por certo
advirão, a exemplo de anistias e subsídios.
Na versão cristã não cabem
discriminações perante as tragédias, mas
perdão, compaixão e solidariedade como
bálsamos às dores e feridas, como no caso
da tragédia gaúcha, com mais de uma
centena de mortos, outro tanto de
desaparecidos, e mais de três centenas de
municípios em estado de calamidade pública.
Ao final, os cristãos, pela via da
espiritualidade, acolhem livre de dogmas, o
que reza a lei moral da destruição: “é
necessário que tudo se destrua para renascer
e se regenerar” e mais, “as desigualdades
das condições sociais não é uma lei natural,
mas é obra do homem e não de Deus”.
Ao final, existem outras possibilidades
de interpretações sobre os fenômenos
climáticos a ser urgentemente levadas em
conta. Os astrofísicos e pesquisadores sobre
o clima têm alertado com frequência sobre a
movimentação dos rios voadores, e as
recentes catástrofes. Afirma ainda, que
outras poderão acontecer como
consequência da intervenção humana no
planeta, mas isso deixamos em aberto para
uma abordagem mais específica, reunindo os
dados que justificam essas previsões.
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