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AS INUNDAÇÕES NAS GRANDES CIDADES

AGRISENIOR NOTÍCIAS AS INUNDAÇÕES NAS GRANDES CIDADES Luiz Ferreira da Silva, 84 Eng. Agrônomo, UFRRJ – 1962. As águas pluviais, ao caírem no solo seguem um percurso – linear e, em sequência, espacial – cumprindo duas funções básicas no sistema edafo/hídrico: recarregar os aquíferos e irrigar o solo. Neste contexto, sobressai-se o lençol freático. O ciclo dinâmico e o equilíbrio hidráulico das camadas do solo versus lençol freático são fundamentais para o nivelamento dos rios, inclusive em relação aos oceanos. Então, a recarga dos aquíferos é necessária, cuja água se enriquece de nutrientes, podendo ser retirada numa dada proporção, desde que não se reduza a um quantitativo abaixo do nível do mar. Outro fator que vem afetando o lençol freático, sobretudo nas grandes cidades, seguindo o raciocínio anterior – importância das recargas dos aquíferos e camadas inferiores do solo – refere-se à camada asfáltica que recobre as ruas, avenidas e demais logradouros, evitando a infiltração das águas pluviais que vão sobrecarregar as chamadas “bocas de lobo”, provocando inundações. Uma quantidade expressiva é perdida, deixando de recarregar o sistema hidrológico e, no caso, causando danos ao homem. Vamos exemplificar com a megalópoles São Paulo. Imaginemos, como exemplo hipotético, uma área central formando uma camada de asfalto de 100 km2 (quadrado de 10 km por 10 km), sob uma forte chuva de 50 mm, que não é difícil de ocorrer. Como se sabe 1mm de chuva corresponde a uma lâmina de 1mm em 1m2; ou seja, 1 litro nesta área. Dessa forma, uma chuva de 50 mm sobre uma superfície de 100 km2 significa 5 bilhões de litros precipitados para serem escoados, ocasionando inundações, haja vista a impossibilidade de as “bocas de lobo” drenarem todo esse volume. E ainda há o problema do lixo que entope as galerias, reduzindo ainda mais a capacidade de escoamento das águas pluviais. É fácil entender que a solução não está nos piscinões, mas na maneira correta de se edificar todo sistema viário, de modo a contemplar áreas livres de compactação, que seriam gramadas ou arborizadas. Em outras palavras, como exemplo, as grandes avenidas teriam que dispor de um canteiro central livre para a referida função “drenante” (esboço esquemático, anexo). Adicionalmente, uma faixa de grama (e/ou árvores floridas de pequeno porte) contínua entre o asfalto e o passeio, que deve ser recuado (distância em torno de 2 metros). Nada, pois, de superfície compacta contínua, seja de asfalto, cimento ou mesmo paralelepípedo. Mais outra vantagem com essa nova concepção de uso do solo, onde as árvores de grande porte deixarão de ser plantadas no passeio público, que ocasionam quedas, e podas constantes dos galhos, significando elevados custos operacionais, além dos danos a terceiros. Ademais da função ecológica, ter-se-ia a visão lúdica das grandes vias por toda a Cidade, embelezando-a. Não é só na urbanização, mas também nas construções de edifícios que se deveria atentar para essa necessidade voltada aos danos materiais e ecológicos. É comum os prédios cobrirem todo o seu espaço territorial com cimento, nada deixando a descoberto, a não ser diminutos jardins. Ter-se-ia que se estabelecer um percentual de área sem compactação. Até casas em belos condomínios, tendem a ocupar todo o espaço com grandes mansões, sem a preocupação da infiltração vertical aqui discutida, em compensação à cobertura cimentada do solo. E, ademais, as estradas, outra preocupação a mais. Não se trata de uma questão de beleza e nem fito ecológica, porém com a mesma função de direcionar as águas para os lençóis freáticos. Nada mais lógico que um canteiro central nas vias duplicadas, separando as duas pistas com arborização., contribuindo até para a preservação de espécies em processo de extinção. Isso, sem se falar na questão hidrológica. Infelizmente, nada disso tem levado em consideração pelas empresas construtoras e, tampouco, pelos governos contratantes. ESBOÇO DE UMA AVENIDA HIPOTÉTICA*: (ASPECTOS ECOLÓGICOS E DE BELEZA CÊNICA) Calçada: 3 m (2 m de cimento + 1m de faixa gramada) Pista de rolamento/asfalto: 10 m. (Canteiro central/árvores: 4m). Área “drenante”. Pista de rolamento/asfalto: 10 m Calçada: 3 m (2m de cimento + 1 m de faixa gramada). *Largura de 30 m: 24 m (80%) de áreas impermeáveis e 6 m (20%) de áreas drenantes. Concluindo, é preciso entender que uma solução tecnológica complexa necessita de um conhecimento holístico, envolvendo mais de uma especialidade. No caso presente, a contribuição do engenheiro-agrônomo é fundamental.

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