Companhia dos Aposentados

Tribuna dos Aposentados, Pensionistas e Trabalhadores do Brasil

UM SILÊNCIO



Caríssimos
                                                    ................................. 
                                               Longe vá temor servil
                                              Ou ficar a Pátria livre
                                            Ou morrer pelo Brasil
                                          ....................................... 
Eis aí meu novo artigo que será publicado, hoje ou amanhã na Coluna do Cláudio Humberto e nos Jornais Estado de Minas, Diário do Vale (RJ) e Tribuna do Paraná.         
Obs. Ver em http://www.diariodopoder.com.br/, clicando em Artigos e em http://www.tribunapr.com.br/


UM SILÊNCIO

A chamada sétima arte, que no presente vem sendo tão aviltada pela falta de talento e pela mediocridade, já brindou o mundo no passado com produções grandiosas que trouxeram cenas magníficas. Dou o exemplo de duas extraordinariamente marcantes em face da força dos momentos que revelam. Outras tantas o caro leitor lembrará melhor.

A primeira se assiste no filme “O Poderoso Chefão”, dirigido por Francis Coppola, que conta a saga de uma família de mafiosos na América das décadas de 1920 e 1930, e que marca o ápice da carreira de Marlon Brando que se consagrou como ator interpretando o poderoso e, na época, o “glamoroso capo de tutti capi”, Dom Corleone, em sua longa trajetória de vida, para no final se transfigurar magistralmente na pele de um velho, doente e cansado siciliano da província já retirado dos negócios, distraindo o neto no fundo do pomar de sua fortaleza quando, por mal súbito, é colhido pela morte e cai por terra. Ao ver o avô caído em meio à plantação de tomates o pequenino se afasta inocentemente. A câmera de Coppola amplia um grande plano aberto (long shot) e registra o enorme silêncio do fim de uma controvertida figura e o de uma era fantástica. Silêncio de morte. Quem viu não esquece, quem não viu não sabe o que perdeu.

A segunda, mais curta e sutil, mas não menos marcante surge no filme de Sidney Lumet, dirigindo verdadeiros monstros do cinema como Albert Finney, Ingrid Bergman, Lauren Bacall, Sean Connery e um extraordinário desfile de astros encenando, em “O Assassinato no Orient Express” as peripécias do lendário inspetor Hercule Poirot, herói da grande romancista inglesa Agatha Christie. Logo na primeira parte do filme e da viajem de Istambul para Europa, Poirot já recolhido para dormir ouve vozes e barulhos característicos vindos de bem próximo. Levanta-se apressado do leito, abre a porta da Cabine 9 e é confrontado pelo surpreendente silêncio no longo corredor do “Vagão Pulman para Calais, na França”. Observa atento com seu faro de velho perdigueiro e sussurrando diz para si mesmo, entre dentes: “Sinto um enorme silêncio. Um silêncio de morte.”. A cena seguinte revela, ao amanhecer, o assassinato de um passageiro milionário, doze vezes esfaqueado. Além do impressionante luxo e do requinte do trem “Expresso Para O Oriente”, tudo o mais é inesquecível.

As lembranças daquelas encenações me chamam a atenção para os tempos de agora. No meio político nacional há um estranho silêncio. Silêncio de morte. Morte da democracia brasileira.

Não estou vendo as velhas quadrilhas de Sarney, Collor, Lula, Dilma, Temer com os descarados do PMDB, FHC com os sorrateiros tucanos e outras de menor tamanho, mas igualmente nocivas e perigosas rotuladas também de agremiações políticas, se confrontando abertamente ou se estranhando entre si. Estão todos quietos. Ouço barulhos nas folhas, mas não vejo os bichos no mato. São experientes e matreiros predadores à espreita da caça. A presa somos nós de quem querem roubar a oportunidade de uma vida melhor. Daí o silêncio. “Un silence de mort”, como diria Poirot.

Percebam como se esconderam os movimentos sindicais e sociais. Vejam como estão calados, tais quais pássaros na muda, os oligarcas da impostura. Registrem como os corruptos da coisa pública desapareceram como a fumaça no vento. Notem como os calhordas mirados pela Lava Jato mergulharam e nem para respirar vêm à tona. Pobre dos cidadãos de bem que não enxergam por debaixo da mansidão dos lagos de Brasília.

Estão todos mudos, de cabeça baixa, porém é certo que não estão inertes. Ao que tudo indica e diz a experiência no trato com esses patifes, que por de trás deste marasmo um grande acordo está se construindo, isto é, um enorme pacto entre o populismo e o negocismo está sendo avaliado e costurado, com objetivo de manter íntegra essa classe política desprezível, tanto quanto bem protegidos todos os corruptos com seus corruptores e a máquina pública burra, ineficiente, caríssima e desonesta funcionando e livre de qualquer medida ou ação contra os desmandos e a exploração da coisa pública, com as quais um dia voltamos a sonhar.

A propósito. Parece que os acordos regionais, entre as facções das quadrilhas do PT e do PMDB, já começaram.

Por onde andam a esquerda corrupta e os chupins do erário? Cadê a direita voraz e aproveitadora e essa gente toda que não se acusam mais, disputando espaços? Contudo, não se iludam, quando as eleições do final do ano chegarem já terão repartido os cofres públicos entre eles e tudo silenciosamente.

“Diz muito o silêncio, diz mais que as falas”, porque depois das palavras a segunda força do mundo é o silêncio, um dia disse o escritor e dramaturgo português Visconde de Almeida Garrett.

Há um silêncio. Um silêncio de morte. Resta saber se nós os cidadãos de bem vamos nos quedar também silentes esperando o enterro da chance de mais justiça e plena igualdade nesta “Terra Brasillis” (Jose Mauricio de Barcellos ex Consultor Jurídico da CPRM-MME é advogado. Email: bppconsultores@uol.com.br).

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