Villas Bôas:
‘Discussões no Sínodo têm viés político’
Tânia Monteiro
15 horas atrás
© DIDA SAMPAIO/ESTADAO-12/8/2019 General
Eduardo Villas Bôas é homenageado, em agosto, durante sessão no Senado
BRASÍLIA – Ex-comandante do Exército e atual assessor do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI), o general Eduardo Villas Bôas, disse ao Estado que,
ao “escapar” para questões ambientais, o Sínodo da Amazônia adquiriu “viés
político”.
Villas Bôas admitiu que o
governo tem “preocupação” com os temas do Sínodo, a ser realizado no mês que
vem, em Roma, mas tentou amenizar o tom de confronto com a Igreja.
“Eles não são inimigos, mas estão pautados por uma série de dados distorcidos,
que não correspondem à realidade do que acontece na Amazônia”, afirmou o
general, em uma referência à carta escrita por bispos, que na semana passada se
queixaram de serem tratados como “inimigos da Pátria”.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
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· Qual
é a preocupação com o Sínodo da Amazônia?
Estamos preocupados, sim, com o que pode sair de
lá, no relatório final, com as suas deliberações. E, depois, como tudo isso vai
chegar à opinião pública internacional porque, certamente, vai ser explorado
pelos ambientalistas. Agora, que fique claro: não vamos admitir interferência
em questões internas do nosso País. Lá, nas discussões, as coisas se misturam e
o Sínodo escapou para questões ambientais e também tem o viés político.
A
Abin está acompanhando essas mobilizações?
É preciso tirar este estigma da Abin. A Abin não
faz espionagem. Ela trabalha principalmente com fontes abertas. Acompanha tudo
porque cabe a ela colher todas as informações, processá-las e encaminhá-las ao
presidente. A Abin acompanha a situação da Venezuela, a questão das
queimadas... Não quer dizer com isso que tenha infiltrado gente ou cometido
qualquer atividade ilícita. A Abin não comete ilícitos.
Em
carta divulgada em Belém, os bispos disseram que estão sendo “criminalizados” e
tratados como “inimigos da Pátria”. Como o sr. responde?
Não é verdade, até porque a maioria dos militares é
de católicos. Se, de certa forma, eles provocaram esta reação (do governo) foi
porque, em todos os movimentos iniciais relativos ao Sínodo, a Igreja não fez
nenhum contato com o governo brasileiro. Isso, naturalmente, gerou uma
preocupação com os temas propostos para o encontro.
Mas
houve muitas queixas no governo sobre o texto que está sendo preparado pelo
Sínodo. Eles são inimigos?
Eles não são inimigos, mas estão pautados por uma
série de dados distorcidos, que não correspondem à realidade do que acontece na
Amazônia. Seria muito mais proveitoso que eles, institucionalmente, procurassem
o governo brasileiro para se inteirar do que realmente está acontecendo, das
intenções, das práticas e o progresso que o governo quer implantar para aquela
região.
Estão
tentando interferir em questões de soberania nacional?
No momento, não. Mas nós estamos preocupados com as
resoluções do Sínodo, que poderão levar a uma interferência. E, aí, não vamos
admitir.
Como
o sr. vê a liberação do garimpo e a exploração agrícola em áreas indígenas?
O pressuposto de que colocar uma redoma nas
comunidades indígenas vai proporcionar a preservação da cultura deles não é
verdade, porque os índios sentem que lhes é negada a possibilidade de evoluir.
Eu nunca fui a uma aldeia sem receber dos índios uma lista com pedidos de
energia elétrica, internet, posto de saúde, escola e realização de atividades
econômicas que lhes dê sustentação. O problema é que a política indigenista que
vinha sendo aplicada incentivava os índios a ingressar em atividades ilícitas
para ter uma oportunidade de evolução.
O
sr., então, é favorável à legalização de atividades econômicas em áreas
indígenas?
Precisamos de pragmatismo e de uma visão de
resultado. Sou favorável a que se legalizem o manejo florestal e a atividade
mineral e agrícola, proporcionando ao índio oportunidade de sustento e
evolução. Temos exemplos de aldeias que tiveram sucesso com atividades
agrícolas.
As
ONGs ajudam ou atrapalham nessas áreas?
Os índios ficaram entre os discursos das ONGs e o
fato de não conseguirem trabalhar, evoluir e ter suas necessidades atendidas.
Por outro lado, as ONGs trabalham para que os índios continuem dependentes
delas, para que os recursos só possam chegar até eles por meios dessas ONGs. Eu
sou favorável a que se identifique, em cada comunidade indígena, qual a sua
vocação econômica. Mas é muito importante que os órgãos do governo sejam
estruturados e aparelhados para terem real capacidade de fiscalização e
acompanhamento do que acontece nas aldeias.
O que
move o presidente da França, Emmanuel Macron, nesses ataques ao Brasil?
O presidente Macron tem interesses eleitorais
internos. Está com 70% de desaprovação e está falando para o seu público
interno. A postura dele não teve eco no G-7. Como é que um país que até 1996
fez experimentos atômicos na Polinésia Francesa, cujos efeitos se faz sentir
até hoje sobre a população, se acha com autoridade moral de nos recriminar?
A
organização do Sínodo e depois, a sua realização, pode interferir na ONU?
Eu acho que sim. Há uma forte interligação entre os
organismos internacionais, sempre com esse viés crítico em relação ao que
acontece no Brasil. Constatamos que há uma ação orquestrada. Depois da fala do
Macron, por exemplo, houve uma do secretário-geral da ONU (António Guterres),
na mesma linha do presidente francês.
O que
está por trás desses discursos, na sua opinião?
O pano de fundo tem também a raiz econômica e até o
agronegócio. O acordo do Mercosul com a União Europeia desencadeou isso tudo.
Tem floresta queimando na Sibéria, todos os anos, no Alasca, Califórnia,
Portugal, Congo. Além disso, essas manifestações vêm sempre das potências
europeias. Esses países, para atenderem às necessidades básicas das suas
populações, fizeram larga exploração da natureza ou em seus territórios ou nas
colônias. Seus processos de colonização sempre foram altamente predatórios,
haja vista o que fizeram na América Latina, Ásia e África. Por isso, nenhum
desses países tem autoridade moral para tentar recriminar o Brasil pelo que
aqui é feito.
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