Companhia dos Aposentados

Tribuna dos Aposentados, Pensionistas e Trabalhadores do Brasil

OS MAIS ODIADOS


OS MAIS ODIADOS
José Roberto Guzzo*

   Tanto faz, de certa forma, quanta gente vai ou não vai para a rua,
ou quantas vezes está disposta a ir no futuro mais próximo.

Além e acima de tudo isso, há um fato que não muda: o Congresso Nacional, e todo mundo que está lá dentro,
formam hoje um dos grupos de seres humanos mais odiados do Brasil. Se fizessem uma “pesquisa de opinião”
perguntando ao brasileiro qual o ambiente que ele respeita mais – a penitenciária da Papuda ou a dupla Câmara-Senado –
qual você acha, sinceramente, que seria a opinião da maioria? Melhor não fazer pesquisa nenhuma, não é mesmo?

A Papuda, na verdade, bem que poderia ser hoje a residência verdadeira de muitos dos nossos parlamentares -
levando-se em conta que até setembro de 2019 cerca de 100 deputados, pelo menos, respondiam a ações penais no STF.

    É muito ruim para a democracia de qualquer país que o Poder Legislativo seja tão detestado como o brasileiro.

É muito pior, ainda, que os culpados disso sejam os próprios deputados e senadores, pelos atos
que cometem e pela conduta que exibem ao público. Não é o “fascismo” que está sabotando o Congresso,
nem a direita – embora existam, sim, grupos de extremistas que querem acabar com a história toda
mandando para lá um cabo e dois soldados. Mas essa turma jamais seria capaz de derrubar um
guarda noturno se tivesse como alvo pessoas de bem. É o caso? Não é – e não adianta fazer de conta que é.

A maioria da população, hoje, iria aplaudir se a Câmara e Senado fossem fechados por um ato de força,
ou ficariam indiferentes. Uma democracia assim está doente.

   A verdade é que são eles mesmos que construíram, tijolo por tijolo, a sua imagem infame junto
à maioria da população. A mídia, os partidos, as entidades que representam alguma coisa, os sociólogos etc.
se levantam indignados em defesa do Congresso. Queriam o que? Basta ver o que fazem,
no dia-a-dia da vida real, os deputados e senadores. Não é só a questão criminal –
estão sendo processados por peculato, concussão, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa,
falsificação de documento. Conseguem, até mesmo, ser acusados em ações penais por trabalho escravo.

Talvez pior que isso seja a postura que, no entender das pessoas, eles têm diante do interesse público –
sempre que veem alguma chance, ficam contra. Escondem-se atrás de crimes coletivos, no plenário, para saquear o país.

   Os congressistas brasileiros são, eles mesmos, uma dificuldade quase insuperável para quem,
honestamente, quer defender o Poder Legislativo.    Às vezes, até, nem merecem a imagem que têm.
Ainda no ano passado, por exemplo, aprovaram a reforma da Previdência Social, uma obra que
poucos parlamentos do mundo fizeram até hoje. Mas isso já está esquecido – o que interessa
é o que o povo acha deles agora. E agora, além do passivo criminal, são vistos como inimigos
de tudo o que o governo tenta fazer para melhorar o país, e como bandidos
que agem o tempo todo contra as mudanças que o Brasil precisa.

   Nada pode ser considerado normal quando o presidente da Câmara dos Deputados faz 250 viagens
em jatinhos da FAB durante o único ano de 2019 – mesmo porque uma das razões alegadas
para isso é o fato de que ele não pode andar em nenhum meio de transporte público,
para não ser triturado por vaias. Temos, aí, que o chefe da Casa do Povo não pode chegar a 1 metro do povo.

É aceitável, uma coisa dessas? Apesar de toda a sua mediocridade, que sempre funciona como um
manto protetor para qualquer político, os presidentes da Câmara e do Senado
estão hoje entre as pessoas mais abominadas do país.
Não dá para funcionar assim – com ou sem gente na rua.

*JORNALISTA, ARTIGO PUBLICADO NO ESTADÃO

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