Ele deu a volta por cima: Cinegrafista negro conta quem realmente é
William Waack
23/08/2018 às 21:11
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ISSO
Um
comovente depoimento do cinegrafista que trabalhou anos com William Waack.
“Eu sou
preto. Já trabalhei com ele na França, em Portugal, na Espanha, na Índia e em
São Paulo.
Nesta caminhada
de 30 anos, fazendo imagens e contando histórias, poucos colegas foram tão
solidários quanto o velho Waack. Ele faz parte dos pouquíssimos globais que
carregam o tripé para o repórter cinematográfico preto ou branco.
Na
verdade, não me lembro de ninguém na Globo que o faça. O velho sabe para que
serve cada botão da câmera e o peso do tripé.
Quando um
preto sugere um restaurante mais simples, ele não dá atenção, porque paga a
conta dos colegas que ganham menos, no restaurante melhor. Como ele fez piada
idiota de preto, ele faz dele próprio, suas olheiras, velhice, etc.
O que a
Globo mais tem são mocinhos e mocinhas de cabelos arrumadinhos, vindos da PUC
ou da USP, que são moldados ao jeito da casa.
Posso dar
o exemplo de quando estávamos gravando uma passagem no meio da rua, onde havia
um acidente, e sugeri a uma patricinha repórter que prendesse o cabelo devido
ao vento. Ela o fez. Gravamos na correria, porque estávamos a duas horas do RJ.
No dia seguinte, na redação, que aparece no cenário do JN, ela comenta.
- Você
viu a matéria ontem?
- Não
- Sobrou
uma ponta do cabelo, fiquei parecendo uma empregada doméstica.
Ao que
respondi.
- Eu sou
repórter cinematográfico, cabeleireiro não havia na equipe.
Posso
lembrar-me de muitas coisas como, quando fazíamos uma matéria para o
Fantástico, uma mesa de discussão, e ao ouvido, ouço o repórter falar.
- Põe
aquela pretinha mais para trás. Isto faz parte do cotidiano. Os verdadeiros
racistas estão por todas as partes, mas são discretos.
Também
tem a famosa, que chegou ao prédio onde vive, e uma moradora (namorada de um
amigo) segurou o elevador.
A famosa
negra não agradeceu, e ficou de braços cruzados. O elevador começou a subir.
Jornalista
Famosa
- Você
não sabe qual é o meu andar?
- Sei,
mas não sou sua empregada.
No vídeo,
ela é uma "querida", jamais trata mal o entrevistado, se estiver
gravando...
Voltando
ao racista William Waack. Quando íamos para a Índia - eu vivia em Lisboa - fui
3 dias antes para Londres, de onde partiríamos para Dheli.
Eu ia
ficar em um hotel, mas o racista que havia trabalhado comigo até então somente
uma vez em Cannes, convidou-me para ficar em sua casa, onde vivia com esposa e
dois filhos, esposa essa a quem ele, preconceituosamente, chamava de “flaca”
devido à sua magreza. Eu via como uma forma de carinho.
Comemos,
bebemos bom vinho e, em nem um momento, alguém quis se mostrar mais erudito que
eu, nem mais racista.”
Gil Moura
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