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O PESADELO DA FOME GLOBALIZADA


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EDITORES: Luiz Ferreira da Silva
Jefferson Dias (jffercarlos@gmail.com)
Edição 681 – ANO XV                                                              Nº 05 – 20 de agosto de 2018


O PESADELO DA FOME GLOBALIZADA
Luiz Ferreira da Silva


Os agrônomos, há muito tempo, vinham incessantemente alertando sobre a deterioração do solo.

A população crescera-mais de 50 bilhões de bocas naquele século – e, mesmo com toda a tecnologia, não havia alimentos, inclusive para os ricos, quanto mais para os pobres. No caso destes, em momento algum a população rural dos países subdesenvolvidos teve acesso aos modernos sistemas de produção.  Enquanto que os apaniguados, as “plantations”, com todos os incentivos e benesses governamentais não souberam utilizar os fertilizantes, nem os pesticidas e, tampouco, as práticas de irrigação, reduzindo a capacidade produtiva dos terrenos, provocando desequilíbrio ambiental.

A visão era produtivista ou economicista, sem se ater aos problemas de deterioração do solo, preocupando-se mais com o imediatismo. Não havia a antevisão do legado da terra às gerações futuras – usar sem depredar.

Muitos fatores contributivos para tal desastre: inadequado uso de maquinarias agrícolas (compactação e arraste da capa orgânica); plantios morro a baixo, sem curvas de nível, ocasionando erosão (perdas de solo e de nutrientes); cultivos monoculturas contínuos (repositório de pragas e doenças); desmatamento com a eliminação da cobertura vegetal nos morros, bacias hidrográficas e margens fluviais; e queimas constantes (perda da estrutura do solo e coesão dos seus horizontes, pela iluviação das partículas finas).

Não havia a conscientização de que o solo é o recurso mais importante da agricultura, significando dizer que deveria ser bem trabalhado para permanecer produtivo, sem se desgastar, possibilitando ser usado de pai para filho, com um legado usufruto. Em outras palavras, ninguém seria dono da terra, mas um “tomador de conta” desse bem de seus descendentes, com a responsabilidade de passá-la para as subsequentes gerações de forma preservada, sadia e produtiva.

E, cada vez mais, as culturas reduziam a sua produtividade, por maiores que fossem as dosagens dos insumos, pois os solos se enfraqueciam e não reagiam. Suas propriedades físicas, químicas, mineralógicas e biológicas se degradavam com o seu mau manejo.

As adubações exageradas não mais surtiam efeito, causando malefícios ao próprio solo e ao ambiente, levadas pelas chuvas aos mananciais hídricos, eutrofizando-os. A irrigação, da mesma forma, provocava danos (erosão e encharcamento do solo), pois o solo perdera a sua capacidade de retenção de água. Os pesticidas, aplicados em altas dosagens, pela virulência dos insetos, fungos, bactéria e vírus, motivada pela fragilidade dos cultivos, carentes em nutrientes (perda de resistência), poluíam o ambiente, sobretudo os recursos hídricos.

E aí bateu o desespero! Antes não havia alimentos para os pobres, como sói acontecer presentemente. Agora, era diferente: os ricos, a elite burra, ressentiam-se da sua falta. A coisa pegou!

As nações do chamado primeiro mundo passaram a invadir os países tropicais, destruindo com avidez, as suas únicas reservas florestais disponíveis no mundo, em busca de comida gerada por aquela terra dadivosa, mas insuficiente para saciar a fome dos poucos sobreviventes, que não tinham mais força para cuidar das plantações, criando um caos, eivado pelo pouco de cereais, raízes, tubérculos e frutas existentes.

Tudo destruído. Com o mau uso do solo, a erosão se encarregou de assorear os rios, levando poluição e desequilíbrio ambiental, afetando os cursos de água e o mar, numa cadeia destrutiva sempre crescente, destruindo a sua ictiologia.

Os Árabes e outros povos produtores de petróleo se deram conta, tarde demais, de que os seus produtos, antes valorizados, não lhes serviam para nada, pois a energia carente era a alimentar, obrigando-os a trocar os barris de óleos fósseis por gramas de trigo, arroz, milho ou batata doce.

Por outro lado, os povos americanos e europeus, que dominavam o mundo sentiam-se à beira do abismo, vendo a fome dizimar a sua gente, a despeito do acúmulo de bilhões de dólares e da sua pujança industrial, antes base do poder via investimentos em armas atômicas e corridas espaciais, fragilizados ante o roncar do estômago. Um prato de comida teria maior serventia. Trocariam tudo por alimentos.

De que valiam as roupas de grifes famosas que as madames ostentavam com empáfia, dependuradas em cabides importados de jacarandá; os carrões de tecnologia avançada apinhados nas garagens; as contas polpudas bancárias; e tantos outros supérfluos? Nada disso poderia encher a barriga, senão o sustento brotado do duro chão, laborado pelo humilde homem rural!

O planeta dominado pelo primeiro mundo se encaminhava para os quintos dos infernos, reduzindo a sua população a cada dia pela carência alimentar, antevendo-se não sobrar ninguém para escrever o epitáfio.

E, agora? As profecias não falavam do final do mundo dessa maneira e, tampouco, Nostradamus, havia percebido esse final tão trágico.

No entanto, os simples homens do campo, na sua labuta de sol a sol, sempre alertaram para o valor da agricultura, sobretudo os pequenos agricultores, a exemplo dos nordestinos do semiárido, clamando pelo reconhecimento e apoio ao seu trabalho, negligenciado pelos políticos incompetentes.

De repente, de um pulo só, Alfred Cate, norte-americano arquimilionário, ergue-se da cama, suando em bica, de olhos arregalados, balbuciando palavras desconexas, desmaiando logo a seguir, sem que sua família entendesse o que estava acontecendo.

Ao acordar num hospital na Califórnia, ante aos espantados médicos que nada de anormal encontraram nos sofisticados exames efetuados, de olhos fixos e lacrimejantes perguntava pelo feijão, pelo arroz, pela batata, pelo bife. Todos se entreolhavam e nada entendiam. Endoidara o Alfred?

Nada disso. Fora um pesadelo, depois de uma noitada regada a vinhos finos franceses, caviar russo e queijo suíço. Talvez um prenúncio de um mundo visto 50 anos “prafrentemente”.

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