BLOG /
Um blog de um
liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente
correta”.
14 de agosto de
2018
·
·
Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
Em época de eleições, são comuns as discussões, até mesmo entre amigos,
sobre políticas de governo, “projetos de país”, cortes e aumentos de gastos,
carga tributária, regulamentações, leis trabalhistas, etc.
Algo que sempre me chamou a atenção nessas discussões e debates é que
quase todo mundo quer menos impostos, mas ninguém quer que o governo corte seus
programas favoritos. Experimente falar de privatização de universidades, fim de
cotas raciais, revisão das políticas de salário mínimo, de incentivo à cultura
ou de subsídios à indústria. Não raro, virão com o velho clichê: “não se deve
jogar fora o bebê, junto com a água do banho”.
Embora a maioria das pessoas já tenha entendido que “não existe almoço
grátis”, quando se trata dos “programas favoritos” de cada um, a conversa
esquenta. Poucos são aqueles que entendem que as exceções de uns serão usadas
como moeda de troca para as exceções dos demais. Afinal, o chamado “logrolling”
é tão antigo quanto a democracia.
Mas há também os socialistas empedernidos, que ainda reagem de maneira
virulenta a quaisquer esforços de cortes orçamentários. Para estes, a crença no
“almoço grátis” é um verdadeiro dogma – e é provável que assim permaneça, até
que a economia finalmente entre em colapso, sob o pesado fardo dos gastos
públicos e das regulamentações, como já ocorreu na Grécia e outros países
europeus, bem como n’alguns estados tupiniquins.
Segundo a cantilena “progressista” (que de progressista não tem nada), é
dever do governo compartilhar a riqueza (dos outros), proteger nossos empregos
(às custas de outros empregos), salvar o planeta (não raro de alguma ameaça
inexistente), tornar nossa velhice mais segura e feliz (às custas dos nossos
netos), garantir nossa saúde, entre outras quimeras. A justiça social, para
essa gente, consiste em tirar dinheiro e empregos de algumas pessoas,
transferindo-os para outras – não raro cobrando alguma sinecura pela
intermediação e rejubilando-se de sua grande generosidade.
PUBLICIDADE
A principal faceta psicológica do esquerdismo é a falta de confiança,
que se manifesta de duas maneiras. Primeiro, há uma incapacidade latente de
acreditar que as pessoas são capazes de cuidar de si mesmas. Segundo, mas não
menos importante, há a falta de percepção de que o progresso ocorre sem ser
imposto de cima pra baixo, de acordo com um planejamento central.
Esquerdistas (e alguns direitistas) raciocinam sob a ilusão de que tudo ficará
bem se as pessoas certas estiverem no comando. Sua visão de mundo não admite
que exista uma propensão inerente aos seres humanos para preconceitos
arraigados, otimismos infundados e cegueira deliberada para fatos
inconvenientes.
Não por acaso, muitos esquerdistas acreditam no governo Papai Noel,
cujos recursos são ilimitados e as boas intenções são capazes de corrigir
quaisquer eventuais influências corruptoras da natureza humana.
Os liberais, por sua vez, entendem que os recursos do estado são escassos
e obtidos via cobrança de impostos, empréstimos e inflação. Eles entendem,
ademais, que todo recurso gasto pelo governo é um recurso que não pode ser
usado – geralmente de maneiras melhores – pelos pagadores de impostos.
Os liberais também entendem que uma pessoa não se torna automaticamente
mais sábia, eficiente ou menos corruptível ao se tornar parte do governo. Além
disso, sabem que o governo não pode prever, replicar ou substituir milhões de
interações complexas, responsáveis, em última instância, pelo bem estar e o
progresso econômico.
Essa batalha pelos corações, mentes e recursos dos cidadãos tupiniquins
continuará enquanto houver – na expressão de Thomas Sowell – esse “conflito de
visões”. Um conflito entre visões irrealistas e realistas sobre a natureza
humana e a irrevogável escassez de recursos.
No lado irrealista estão aqueles cujo pensamento mágico os leva a
acreditar que o governo pode resolver todos os “problemas” com o golpe da pena
de um presidente, bastando que os ricos sejam devidamente taxados, para o bem
do povo e felicidade geral da nação, sem que isso signifique qualquer problema
para a eficiência econômica em geral.
No lado realista estão os liberais e alguns conservadores, que entendem
que a natureza humana é imune à reengenharia social, o que significa que coisas
ruins acontecem quando as pessoas são obrigadas a financiar o Estado em seus
esquemas de bem estar. Os realistas entendem também que, na maior parte das
vezes, os “problemas” visualizados pela esquerda não são problemas reais, mas
fatos da vida, que poderiam ser contornados por pessoas livres, agindo
voluntariamente através dos mercados e outras organizações sociais privadas.
Rodrigo Constantino
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários
anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller
“Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para
veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho
Deliberativo do Instituto Liberal.
0 comentários:
Postar um comentário