Luzia - queimada pela incompetência
Publicado por Ernesto Caruso
Ernesto Caruso
Pão e circo. A regência dominadora. Bolsa
família e estádios de futebol. A política que prevalece na
cúpula do país contaminando a Nação, dilapidando o Tesouro Nacional e
desconstruindo a família. A incompetência em servir o cidadão e a extrema
competência em roubar a Nação.
Da malfadada expressão, não se faz Copa do
Mundo com hospitais, passando pela demolição infundada do Estádio do Maracanã e
construção de outro, reforma e edificação de mais onze arenas e, pelos gastos
com as Olimpíadas, ao nível de penúria do Estado do Rio de Janeiro. Caldo de
cultura das vorazes bactérias da corrupção a destruir tesouros da História da
humanidade e a dignidade de uma Nação.
Quem assistiu pela televisão os primeiros
momentos do incêndio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista constatou a
imobilidade das guarnições do Corpo de Bombeiros diante da falta de água nos
hidrantes. Césares das sucessivas administrações do Estado, na terra, nas
prisões, em qualquer parte, tocavam a lira da desgraça planejada. De tanto
roubarem o Estado, bola de cristal se faz desnecessária. As labaredas consumiam
o passado e o trabalho de tantos dedicados personagens ao longo de 200 anos,
agregando valor à iniciativa de D. João VI ao criar o Museu Real em 1818.
Pois, todo esse patrimônio anunciado com 20
milhões de itens, era guardado por quatro vigilantes, que talvez nada pudessem
fazer para dar combate ao incêndio, iniciado por volta de 19 h 30 min, após o
término das visitas no domingo de dois de setembro. Quantos funcionários do
Museu cuidavam do valioso acervo durante os expedientes?
Óbvio que o descuido de qualquer um dos
passantes pelas salas e sanitários pode ser a origem da tragédia. Previsível,
não? Um curto-circuito pode ter ocorrido. Uma mente destrutiva causa danos onde
menos se espera. Daí, quais os planos de combate a incêndio, por exemplo?
Qualquer empresa que se pretenda estabelecer,
um prédio que se intente construir, uma boate para funcionar tem que passar
pelo crivo dos órgãos públicos, inclusive do Corpo de Bombeiros.
Impossível imaginar um prédio do porte do
Museu, que dentre tantas preciosidades, mantinha uma biblioteca em ciências
naturais com mais de 470.000 volumes e 2.400 obras raras, sem uma
equipe/sistema de combate a incêndio.
Peças de valor intangível como o crânio de
mulher — Luzia — com mais de 11.500 anos, destruído por governos de fancaria,
desprezíveis, mas que se revezam no poder roubando o bem público e iludindo o
cidadão que os elege.
Tais ocorrências não se restringem ao Estado
do Rio de Janeiro, retrato surrealista do sucateamento. A lembrar, em São
Paulo, o Estado de maior expressão da Federação, com muitos recursos
arrecadados, deixar ocorrer vários incêndios em edificações semelhantes ao
Museu consumido pelas chamas e inaptidão governamental.
De 2008, com o Teatro Cultura Artística,
Instituto Butantan (2010), Memorial da América Latina (2013), Centro Cultural
Liceu de Artes e Ofícios (2014), do Museu da Língua Portuguesa (2015),
Cinemateca Brasileira (2016).
O desastre no Instituto Butantan destruiu um
dos mais importantes acervos de cobras, escorpiões e aranhas; 70 mil espécies
conservadas viraram cinza.
Um exemplo do descaso, do pouco zelo com os
bens públicos e o abominável desprezo das autoridades em relação à vida humana.
No incêndio do Museu da Língua Portuguesa, um bombeiro perdeu a vida, mas o que
ocorreu na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), em 2013, matou 242 pessoas e feriu
outras 636.
As famílias choram os parentes mortos enquanto
os responsáveis não são punidos.
A cada sinistro dessa natureza, o clamor
público se faz presente, a revolta pulsa forte nos sentimentos de todos, mas
que se dissipam por estímulos de novos escândalos, como se uma dor aplacasse a
anterior.
O que não dá para aceitar como justificativa
da falta de recursos com finalidades culturais é o destino de verbas do Tesouro
para atender apaniguados em documentários, filmes sobre as estórias de vida
deles próprios, excursões artísticas e mostras de arte duvidosa e
inconvenientes para menores.
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