Companhia dos Aposentados

Tribuna dos Aposentados, Pensionistas e Trabalhadores do Brasil

O APOSENTADO E A FÁBULA


Era uma vez...

Conta-nos a fábula de Monteiro Lobato, 'Os Animais e a Peste'', que num determinado período no lendário "Reino Animal", a peste fazia um estrago danado, dizimando seus habitantes! Todos os animais muito assustados, temendo ser o motivo da epidemia um castigo dos deuses, resolveram criar um tribunal para julgar e condenar uma fera ao holocausto. Esperavam assim aplacar a fúria divina. O animal condenado deveria ser entre todos, julgado o mais cruel, o maior predador, o maior responsável pela temível peste!

Todas as feras fizeram então suas confissões narrando as maiores atrocidades cometidas. Dentre todos os animais, feras carniceiras e assassinas, foi considerado culpado um pobre burrico pelo único crime de ter comido uma folha de couve da horta do senhor vigário. Assim, sacrificaram o infeliz burrico, apontado como o verdadeiro culpado pela propagação da peste. Moral da história: "Aos poderosos tudo se desculpa, aos miseráveis nada se perdoa", ou ainda: "A corda sempre arrebenta do lado mais fraco".

Exatamente é o mesma coisa que acontece com os aposentados. São considerados os únicos culpados pelo deficit que juram existir na Previdência. O único pecado dos aposentados é receber proventos acima do salário mínimo, o que também pode ser comparado ao crime do burrico, que comeu uma única folha de couve  do senhor vigário. São os aposentados pacatos como o humilde e inocente burrico, e igualmente indefesos, sem forças físicas ou maiores recursos financeiros para se defenderem. 

São de fato os aposentados o lado mais fraco da contenda, fácil de manipular, de serem discriminados para que possam tranquilamente desviar das contas previdenciárias recursos para outras contas, não ligadas aos trabalhadores. Dizem que um dos desvios é para suprir o 'bolsa família', o que seria até muito louvável se fizessem o desvio de outras fontes, não prejudicando demais os aposentados e trabalhadores ativos. É o exemplo típico de outro provérbio popular que diz: falham ao teimar o uso um cobertor curto, porque, cobrindo a cabeça, descobre-se os pés. 

Nestas últimas duas décadas os aposentados que deveriam ser exaltados por tudo o que fizeram pelo crescimento do Brasil, são desprezados, humilhados, desamparados por autoridades acomodadas, que só deveriam fazer a justiça prevalecer, mantendo a qualquer custo a igualdade na distribuição de renda, entre todas as camadas da população. A cota de sacrifícios ou a fartura, deveriam ser divididas igualmente entre todos os segmentos da sociedade. Não se pode melhorar o poder aquisitivo de uns aposentados, tirando dos outros aposentados para nivelar aposentadorias. Se há aposentadorias com valores diferentes, é perfeitamente justo e explicável pelas contribuições diferenciadas de todos durante todo o tempo de atividade. Não se pode enriquecer o pobre, empobrecendo o rico! Isto, socialmente, é no mínimo imoral! Falta inteligência e coerência nesses homens públicos de mentes tacanhas!

Que setores, principalmente os dos poderes públicos, com seus altíssimos salários, concordariam em ter todos os anos em vez de aumentos reais que tanto cobiçam, terem só reduções nos seus proventos?  Nenhum, claro! Aí não convém mexer com outras categorias para não criar insatisfações e confronto de forças. Vamos então sacrificar os aposentados já que são improdutivos mesmo! Em outras palavras: Não trabalham, logo, não têm o direito de fazer reivindicações!

# Que país é este em que o Congresso concorda com a desvinculação do reajuste de um terço dos aposentados, ao  reajuste do salário mínimo, excluindo do perverso desvínculo os outros dois terços de previdenciários, embora todos estes aposentados pertençam ao mesmo RGPS? Seria a mesma coisa se uma empresa idônea, coerente, corrigisse o salário de seus empregados aumentando com maior percentual os que ganham menos, punindo os que ganham mais, com um percentual menor! Parece justo! Mas não é, se considerarmos a produtividade e a jornada de cada trabalhador. Será que não existiam parlamentares de visão que enxergassem que no futuro um achatamento brutal e desumano seria o resultado deste insano procedimento? Será que não pressentiram que o resultado final desta monstruosidade geraria uma inevitável insatisfação geral e revolta entre aposentados, pensionistas e familiares? E os parlamentares de hoje? Bisonhos, nada fazem para derrubar este nefasto sistema de dois percentuais diferentes na correção das aposentadorias. 

# Que pais é este em que os parlamentares alardeando a necessidade premente de conter gastos públicos, aprovam com a rapidez de um raio reajustes para seus próprios salários, com índices de correção indecentes e escandalosos, enquanto, estipulam para o salário mínimo uma correção mínima, que mais parece um deboche e um forte entrave para a vida profissional do trabalhador?

# Que país é este que a Câmara dos Deputados esconde projetos de aposentados que já foram há muito aprovados com unanimidade no Senado Federal? Cadê o entrosamento necessário para a soberania da nação entre essas duas Casas Legislativas? Uma discute e aprova projetos e, a outra, não admite nem sequer que estes mesmos projetos constem das pautas de votação!!  

# Que país é este em que não  procura corrigir as injustiças cometidas na justiça trabalhista? Falta a boa vontade de fazer as coisas justas e certas. A justiça humana é implacável contra os fracos e oprimidos, mas não é capaz de pôr as mãos num grande, num poderoso. Vemos homens públicos ao serem pilhados em falcatruas, em vez de serem punidos exemplarmente, são afastados e premiados com aposentadorias astronômicas.
 
# Que país é este que empurra seus aposentados para baixo com o esdrúxulo argumento de melhor distribuição de renda com aumentos reais do salário mínimo, tirando, entretanto, do aposentado/burrico que ganha um pouquinho acima do piso, em vez de tirar dos verdadeiros marajás que estão sugando as tetas do Brasil com super e astronômicos salários? Um país que quer ser grande e justo tem que considerar seus idosos e crianças como cidadãos intocáveis, os últimos cidadãos a serem atingidos quando há necessidade para se contornar qualquer crise que ameace o país!

É por isso que o exemplo e o ensinamento moral desta fábula podem perfeitamente serem adequados à história do aposentado, o maior sacrificado pelos Poderes Públicos! O nosso Monteiro Lobato deveria estar muito inspirado, quando a criou: -Atirou no que viu e acertou no que não viu-.

Almir Papalardo.

0 comentários:

Postar um comentário