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MULHERES DE PRESIDENTES



MULHERES DE PRESIDENTES
Aileda de Mattos Oliveira (6/2/2019)
O assunto é requentado, mas impossível não voltar a ele. Interessante notar que muitas mulheres de Presidentes passaram pelo tapete vermelho da visibilidade pública, mas permaneceram em brancas nuvens durante o trajeto de seus maridos. Umas, matronas, no sentido exato da palavra, de respeitabilidade e maturidade; outras, meros vasos que adornaram o palácio presidencial; mas houve, ainda, aquela que nem sabia o que era ser primeira-dama.
Dizem que atrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher. Se o ditado estiver correto, concluímos que, no caso brasileiro, pelo que presenciamos na história política da República, os homens eram pequenos, pois atrás deles só havia pequenas mulheres. Ressalto, apenas, duas e, certamente, serão nomeadas mais algumas, mas apenas expresso o meu ponto de vista.
Destaco duas mulheres em séculos diferentes, de distintos gostos e procederes, cada uma de acordo com o seu tempo, mas que fizeram ouvir a sua voz no silêncio de suas ações.
A primeira-dama Senhora Darcy Vargas, sempre que aparecia nos palanques com o marido, o estadista e ditador Getúlio Vargas, tinha um ar pensativo, preocupado. Apontavam, na época, problemas conjugais com o “Pai dos Pobres”, mas outras primeiras-damas também os tiveram com os seus respectivos consortes. O que importa é que D. Darcy sabia administrar os problemas pessoais sem prejudicar os programas sociais.
Mantinha-se, pela sua autoridade e discrição, fora das notícias sensacionalistas, permanecendo sempre recatada, nunca se expondo fora do plano a ela reservado na escala presidencial, enquanto Getúlio lançava aos ares o seu “Trabalhadores do Brasil!”, que englobava, numa só classe, todos os brasileiros, diferentemente dos discursos revolucionários de João Goulart que dividiam, em fatias, a população, como só a esquerda sabe fazer.
Dona Darcy Vargas desenvolveu, com aptidão, a tarefa que tomou para realizar. O que poucos hoje sabem é que no silêncio de sua função coadjuvante, preocupava-se com os meninos desabrigados ou de famílias de nenhuma renda, aos quais desejava mostrar-lhes, desde cedo, que o melhor caminho do crescimento humano é o do trabalho. Para tanto, criou um centro de acolhimento, de instrução, de higiene, para crianças que nada tinham no presente, e sem nenhuma possibilidade de futuro.
Surgiu, então, a Casa do Pequeno Jornaleiro, no tradicional bairro da Saúde, próximo à Praça Mauá, onde crianças do sexo masculino eram acolhidas, instruídas e vendiam jornais, vestidas de macacão que as identificava, em pontos determinados das calçadas. Começavam a aprender que dinheiro se ganha com a labuta do dia a dia. Na semana do Natal, os pequenos jornaleiros, deixavam a tarefa diária, e saíam às ruas do centro da cidade com a sua bandinha para participar dos festejos de fim de ano, executando músicas natalinas e outras mais.
Foi assim que a primeira-dama Darcy Vargas, apenas no silêncio do trabalho humanitário, fez ouvir a sua voz. Sem a presença dela, a obra foi-se deteriorando e, hoje, um ponto esquecido no passado.
Assim, também, Michelle Bolsonaro age: sem clamores, sem coquetéis de inauguração de qualquer coisa, sem bombásticas mensagens nas redes sociais, sem informação prévia aos jornalistas. Simplesmente, faz.
A linguagem de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), se somente são gestos para nós que podemos ouvir os sons do mundo, são palavras que gritam para aqueles a quem falta a audição.
Diferentemente de Dona Darcy Vargas, porque os tempos são outros, Michele tomou a dianteira no Parlatório, deixando o Presidente a um passo atrás, para lançar aos ares a sua mensagem, silenciosa, mas de grande potência auditiva para aqueles que mais precisavam dela.
Nada entenderíamos se não houvesse a assessora que, emocionada, ia verbalizando os gestos da mensagem que informava estarem os surdos incluídos nos programas públicos de atendimento da moderna primeira-dama. Dos gestos, Michele foi à ação: Priscila Gaspar é a primeira surda proveniente de uma família de surdos, com três filhas surdas, a ocupar uma função na Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência. Apesar de ser dona de um currículo de peso (entre outros gabaritos, é Professora da PUC em São Paulo) a imprensa invejosa e provinciana já decretou que sua escolha deve-se à amizade que dedica à primeira-dama.
Duas épocas, duas personalidades, mas ambas usaram a mesma estratégia: o silêncio, para clamarem pelos sempre ausentes dos programas estatais. E as demais mulheres de Presidentes? Meras figurações. Há quem cite D. Ruth Cardoso, mas por ter sido comunista de ideias e de entranhas, era lesa-pátria, portanto, não existiu para mim.
Dr.ª em Língua Portuguesa. Acadêmica Fundadora da ABD. Membro do CEBRES e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

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