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evolução da estratégia naval brasileira (1991-2018) – parte 3
A evolução da estratégia
naval brasileira (1991-2018) – parte 3
25 de julho de 2018
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Fragata Defensora passa perto de uma plataforma de petróleo
Em meio aos
estudos do Plano de Levantamento da Plataforma Continental (LEPLAC) para o
reconhecimento da extensão da plataforma continental junto à ONU, o Brasil, em
2008, anunciou a descoberta dos campos de petróleo do pré-sal. A defesa do
patrimônio marinho, naquele momento, se tornava, então, uma das mais
importantes questões estratégicas para o País.
Com a
exploração do Pré-Sal, o Brasil entraria em pouco tempo para o clube dos
grandes produtores de petróleo no mundo e por consequência, passando a fazer
parte da problemática geopolítica do petróleo.
É
interessante observar que os países que mais produzem e também que possuem
maiores reservas de petróleo estão envolvidos, de uma forma ou de outra, em
questões diplomáticas ou militares. Citam-se os casos da Venezuela, que segue
em profunda crise e tensões com os EUA, assim como a Líbia, invadida em 2011
pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no contexto da Primavera
Árabe.
O Oriente
Médio tem permanecido politicamente instável justamente por ser a região
responsável por 60% da produção mundial de petróleo.
A Arábia
Saudita é líder mundial na produção de petróleo no mundo, o que influencia
bastante sua importância geopolítica. Os Estados Unidos, por sua vez, mesmo
estando em terceiro lugar em produção, não são autossuficientes, pois é o maior
consumidor. Isso explica as diversas ações que esse país realizou a fim de
ampliar o seu mercado e baratear os custos de importação do petróleo. Para se
ter uma ideia, os norte-americanos consomem cerca de 18 milhões de barris por
dia, quase cinco vezes mais do que o Japão, terceiro colocado em consumo do
produto.
Além
do Pré-Sal
A expectativa
da Petrobras é de que, até 2020, a produção do pré-sal chegue a 2 milhões de
barris/dia, representando 53% da produção nacional de petróleo.
Com base
nesses resultados, o Brasil vai figurar entre os maiores exploradores de
petróleo do mundo. A produção de gás natural também se destaca — mais de 12
milhões de metros cúbicos são obtidos diariamente na região do pré-sal.
A maior parte
dos campos do pré-sal se encontra no limite da Zona Econômica Exclusiva, mas
foram também identificadas formações geológicas semelhantes além da faixa das
200 milhas náuticas, na área que o governo estabeleceu como Plataforma
Continental brasileira.
O potencial
econômico do subsolo marítimo brasileiro, no entanto, vai muito além do
petróleo e do gás natural encontrados na região do pré-sal.
Há, na
chamada “Amazônia Azul”, vastas reservas de ouro, diamante, ferro, níquel,
estanho, cobalto, cobre e fosfatos entre outros minerais. Pelo menos 17
variedades são estudadas pelo REMPLAC, o Programa de Avaliação da Potencialidade
Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira, lançado pelo Governo
Federal em 1997 e desenvolvido a partir de 2005.
A Marinha do
Brasil disponibilizou navios para pesquisa de minerais no solo e subsolo. O
programa constatou, por exemplo, a existência de ouro na região da foz do rio
Gurupi, na divisa entre o Maranhão e o Pará; e, ainda, de diamantes, no sul da
Bahia, próximo à foz do rio Jequitinhonha.
As crostas
cobaltíferas — ricas em minerais metálicos, como cobalto, manganês, níquel,
cobre e terras-raras — estão sendo pesquisadas em todo o litoral do Espírito
Santo até as ilhas de Trindade e Martin Vaz (território brasileiro, a 1.200
quilômetros da costa), no entorno do arquipélago de Fernando de Noronha e no
litoral nordestino.
O
‘Pré-Sal da Mineração’ no Atlântico Sul
O Brasil
recebeu em julho de 2014, pela primeira vez, uma autorização da Autoridade
Internacional dos Fundos Marinhos (Isba, em inglês) para realizar pesquisa e
exploração de minérios numa área no Atlântico Sul conhecida como Elevação do
Rio Grande, localizada além das águas jurisdicionais do país.
A região é
vista por geólogos como um potencial “pré-sal da mineração”, tendo em vista sua
capacidade exploratória, principalmente de cobalto, níquel, platina, manganês e
tálio e telúrio, estes dois últimos da categoria terras-raras, mais valiosos.
Contudo, a exploração econômica de jazidas no fundo do mar ainda é cara e seu
retorno, incerto, como era o próprio pré-sal há alguns anos.
Enquanto a
atividade mineral não vira realidade, pedidos de registro servem literalmente
para o país demarcar território. Além do Brasil, ganharam da Isba direito de
explorar áreas internacionais Índia, Alemanha, Rússia, Reino Unido, Ilhas Cook
e Cingapura.
Com o aval do
Isba, o Brasil poderá explorar uma área de três mil quilômetros quadrados — o
maior tamanho possível de concessão — na Elevação do Rio Grande, a cerca de 1,5
mil quilômetro da costa brasileira. Segundo o Ministério de Relações
Exteriores, o plano é pioneiro no Atlântico Sul e há a possibilidade de
cooperação internacional. Na proposta enviada ao Isba, o Brasil se dispôs a
investir US$ 11 milhões nos primeiros cinco anos da concessão, que tem duração
de quinze anos.
Localização do Elevado Rio
Grande
Como
defender o patrimônio brasileiro no Atlântico Sul?
Depois da
elaboração da Estratégia Nacional de Defesa em 2008, o Governo Brasileiro
entendeu que era necessário manter Forças Armadas bem equipadas e treinadas,
com quantidade de meios suficiente para fazer valer seus interesses no seu
entorno estratégico.
Nesse
contexto, o Ministério da Defesa solicitou às Forças Armadas, a elaboração de
seus respectivos Planos de Equipamento e Articulação (PEA). Cada plano deveria
conter as necessidades de meios para os próximos anos e as ações de articulação
com a indústria de defesa.
Em 2009, o
PEA da Marinha do Brasil, conhecido como PEAMB, apresentava a necessidade de
meios para os próximos 30 anos. Orçado em cerca de R$ 250 bilhões, era bastante
ambicioso, no qual a MB apresentou suas necessidades para fazer frente a esse
novo contexto.
O PEAMB
previa inicialmente a construção de 2 navios-aeródromo com cerca de 50.000
toneladas; 4 LHD com cerca de 20.000 toneladas; 30 navios de escolta; 15
submarinos S-BR e 5 SN-BR; além de 62 navios de patrulha.
Eram números
ambiciosos que objetivavam acabar com o perigoso vácuo estratégico existente no
Atlântico Sul. A MB entende que se não preencher ostensivamente nosso Teatro de
Operações, certamente alguém o fará no futuro.
O
PEAMB vira PAEMB
O Plano de
Equipamento e Articulação da Marinha do Brasil (PEAMB) foi renomeado
posteriormente como Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil
(PAEMB).
Os números
contidos no PAEMB eram os desejáveis, contudo, números muito difíceis de serem
alcançados nas próximas décadas. Por esta razão, no final de 2010, a Marinha do
Brasil estabeleceu um planejamento para obtenção de meios navais e aeronavais
para o período de 2011/2031.
No
planejamento previsto no PAEMB, a Marinha do Brasil implantaria na Região
Norte/Nordeste uma Segunda Esquadra, porém, não no período compreendido entre
2011 e 2031.
Concepção do PA2 proposto para a Marine Nationale francesa. A
Marinha do Brasil planejava construir navios-aeródromo com configuração
semelhante
Dos dois
navios-aeródromo previstos no PAEMB, a MB deveria iniciar a construção da
primeira unidade em 2015, e sua incorporação ocorreria em 2025, substituindo o
NAe São Paulo. Este navio teria deslocamento entre 50.000 e 60.000
toneladas, contando com aparelhos de parada para pouso e duas catapultas para
decolagem de aeronaves. Uma segunda unidade poderia ser construída a partir de
2031.
A MB
contratou 8 unidades de aviões C-1 Trader para missões de COD/AAR. Essas
unidades deveriam ser entregues a partir de 2012. A MB analisou a aquisição de
4 S-2G Tracker para transformação em aeronaves AEW. Um segundo lote de 4 S-2G deveria
ser contratado ainda nesta década.
Sea Gripen da MB na LAAD
2015
Dois anos
após a Força Aérea Brasileira (FAB) decidir qual será seu avião de caça/ataque,
a MB iria contratar 24 unidades do mesmo modelo para operar no futuro NAe.
Um segundo e
um terceiro lote de 4 helicópteros Sea Hawk deveriam ser contratados até 2031.
Dos 16 Super Cougar a serem entregues, 8 seriam exclusivos para transporte e 8
seriam usados em missões de ataque, armados com mísseis AM-39 Block 2.
BPC Dixmude, da classe Mistral. Esta classe francesa era
forte candidata para os navios de propósitos múltiplos pretendidos pela Marinha
do Brasil
Dos 4 navios
de propósitos múltiplos (NPM) previstos no PAEMB, Os dois primeiros começariam
a ser obtidos a partir de 2012. A primeira unidade seria incorporada em 2020 e
a segunda em 2024. Esses meios teriam deslocamento entre 20.000 e 25.000
toneladas. Seriam dotados de doca e substituiriam todos os Navios Desembarque
Doca (NDD) e Navios de Desembarque de Carros de Combate (NDCC) em
operação na MB.
Fragata FREMM Alpino, da
Marinha Italiana
Dos 30
navios-escolta previstos no PAEMB, os 5 primeiros, com 6.000 toneladas de
deslocamento, deveriam ser contratados até 2013. A primeira unidade começaria a
ser construída um ano após a assinatura do contrato e demoraria 6 anos para ser
concluída.
Esse lote
inicial teria capacidade antissubmarino, anti-superfície e antiaérea de ponto,
seriam designadas como escoltas de emprego geral (EG). No segundo lote de 5
unidades, estava previsto que 4 possuiriam capacidade de defesa de área, com
mísseis de médio e longo alcance. Os 10 primeiros escoltas devem ser
incorporadas até 2031.
NPaOc Amazonas P120
Dos 12
Navios-Patrulha Oceânicos (NPaOc) de 1.800 toneladas previstos no PAEMB, os 4
primeiros deveriam ser anunciados ainda em 2011 e sua construção deveria ser
iniciada em 2012. A primeira unidade deveria ser incorporada em 2015. As demais
a cada dois anos. Um segundo lote, também de 4 navios deveria ser contratado e
incorporado antes de 2031.
Navio-Patrulha Macaé
Dos 46 navios
de patrulha da Classe “Macaé” (500t) previstos no PAEMB, 2 foram construídos, 4
permanecem em construção. Um segundo lote de 6 unidades deveriam ser contratado
até 2015. Um terceiro lote, também de 6 unidades deveria ser contratado na
década de 20. Totalizando, assim, 18 unidades até 2031.
Dos 15
submarinos de propulsão diesel-elétrica (S-BR) previstos no PAEMB, 4 foram
contratados. O primeiro já está em construção na França. Estes submarinos
deveriam ser incorporados em 2017, 2018, 2020 e 2021.
A previsão é
que o primeiro submarino classe “Tupi” seria desincorporado em 2021. Um segundo
lote de 4 S-BR deveria ser contratado para substituir os submarinos da Classe
“Tupi” e o “Tikuna”. Desse modo, a MB pretendia a partir de 2020, manter sempre
8 submarinos de proculsão diesel-elétrica em operação.
Dos 6
submarinos de propulsão nuclear (SN-BR) previstos no PAEMB, o primeiro SN-BR
foi contratado e deveria ser incorporado em 2025. Dependendo da avaliação deste
primeiro submarino, a partir de 2030 novas unidades poderão ser contratadas.
Dos 5 Navios
de Apoio Logisticos (NApLog) previstos no PAEMB, o primeiro deveria ser
contratado até 2012, sendo incorporado em 2015. Mais duas unidades deveriam ser
contratadas até 2031. Estes meios teriam um deslocamento de 22.000 toneladas e
teriam capacidade de fornecer no mar combustíveis, inclusive de aviação,
lubrificantes, munições, água e gêneros alimentícios.
Esses eram os
principais programas pretendidos pela MB no período de 2011/2031, mas a grave
crise econômica na qual o país mergulhou a partir de 2014, resultou em nova
mudança no planejamento estratégico.
>>>Continua
em próximo post…
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