Companhia dos Aposentados

Tribuna dos Aposentados, Pensionistas e Trabalhadores do Brasil

A PIOR DE TODAS AS DESCULPAS




sábado, 24 de novembro de 2012

A pior de todas as desculpas

José Carlos Bolognese
Para não pagar – antes, devolver – o que os ex-trabalhadores e aposentados da Varig têm direito para continuar vivendo, muitas desculpas vêm sendo apresentadas ao longo de quase sete anos. Nenhuma delas se sustenta, pois não se pode desmentir o fato concreto de que assinamos um contrato com o Aerus e a Varig e que o padrinho desse casamento foi o governo. Muito menos se pode ignorar o fato de que em caixas e gavetas pelo país afora, os aposentados e demitidos em sua maioria guardam documentos como os contracheques, por exemplo, provando que pagaram duplamente para se aposentar com dignidade. Primeiro à previdência oficial que arrecada sempre mais do que devolve, num sistema de torniquete que aperta o pescoço do aposentado a cada ano que passa... só para ver se esse chato morre logo. E depois, quando o trabalhador que se esforçou e mereceu um salário maior e não é perito em finanças, volta a contribuir para livrar-se daquele fantasma de quatro letras (INSS), e adere a uma previdência privada.
Como nada é igual mesmo quando tudo é muito ruim, a pior desculpa para não pagar os ex-trabalhadores da aviação comercial lesados por um calote infame, é a de que isto causaria um dano de difícil reparo às finanças da União. Antes de jogar um fardo destes no lombo de trabalhadores, é preciso que primeiro o governo reconheça que o pior gastador, o maior perdulário com as finanças públicas é ele mesmo, o governo. E não adianta partir para a impessoalidade, alegando que são gastos do estado e coisa e tal, porque o povo sabe que por trás de cargos, existem pessoas, nomes e interesses.
Um dos inacreditáveis 39 ministérios do governo atual, durante a gestão de um ministro de um certo estado, destinou 80% do orçamento para seu estado natal. Outro, de outro estado – que lhe sucedeu aplicou por sua vez, 90% do orçamento do ministério para seu estado. Ora, se um ministério é federal, sua responsabilidade e recursos são para todos os estados. Aí sim está uma prova de grave dano às finanças da União, assim como o número exagerado de ministérios. Mas como o brasileiro é super criativo, principalmente com o dinheiro dos outros, como a jabuticaba que só dá por aqui, somos campeões em inventar cargos para acomodar “funcionários” quando o certo seria preencher uma vaga onde haja trabalho de verdade a ser feito para o país, já que o pagante obrigatório deste trabalho é o contribuinte. 
Estas, entre muitas outras, são irresponsabilidades palpáveis, de fácil percepção para quem não tem preguiça de pensar e não se pauta pelo jornalismo “companheiro” que esqueceu até a arte de fazer perguntas pontuais que levem à verdade, preferindo fazer o papel de “escada”, colocando já a resposta junto com a pergunta, para que o elemento do governo nunca fique numa saia justa.
Nunca antes... nem depois se fez perder tantos valores não só monetários neste país...
Eis um exemplo recente: Uma reunião político-partidária para tratar de eleições em 2014 (ainda estamos em 2012, mas eles só pensam naquilo) no próprio Palácio do Planalto, reuniu a presidente, seu partido e seus aliados. Até onde sabemos, o planalto é um espaço da República, mantido com dinheiro público e não uma suíte de hotel que se aluga ou sede de partido. E um espaço republicano, para uso das funções oficiais da presidência da república, deve ter caráter permanente enquanto o/a ocupante por tempo determinado é apenas a sua circunstância. Os “defensores” da União e dos seus recursos não têm nada a dizer sobre isto?
O outro tipo de grave dano ao país e ao dinheiro dos contribuintes passa agora por fase de fortes emoções com o julgamento dos corruptos do mensalão. Bastou a ameaça de cadeia – alguns já têm reserva confirmada pelo STF – para que eles e seus acólitos evocassem as imagens tenebrosas da “Santa” Inquisição em cartaz nos presídios tupiniquins. Todos eles ligados ao “governo” que em dez anos, nunca se preocupou em destinar recursos para que as penitenciárias fossem menos penitência e mais recuperação.
Como então falar em perdas e danos à nação, sejam elas demonstráveis em quantias de dinheiro, seja porque o muito de riqueza que se deixa de produzir é perdido com as mortes precoces de jovens pela violência, pelas drogas, pelo transito que mata mais do que guerra civil, sem lembrar que casos como o mensalão representam desvios criminosos de dinheiro arrecadado para atender necessidades, que são muitas, do povo e não para um bando da malandros que só querem se manter no poder a qualquer custo.
Se valessem por estas bandas os valores e princípios universais de respeito à dignidade humana que ora tanto se rebaixam, alegando que devolver o que pertence aos ex-trabalhadores e aposentados da Varig e Transbrasil é danoso à União, certamente essa gente seria obrigada a morder a língua e lavar a boca com bastante sabão. Além do que deveriam ser processados todos os que, como autores do calote nos levaram a esta situação absurda, tanto quanto os que podendo resolver, se omitem, agarrados à pior de todas as desculpas.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 24-11-2012
Edição: JP 

Foto: Michael Dantas/A Crítica - Manaus

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