VEJA CORRESPONDENTES
Política, negócios,
urbanismo e outros temas e personagens gaúchos. Por Paula Sperb, de Porto
Alegre
Intervenção militar não é varinha mágica,
diz general Mourão
Em Porto Alegre, general chamou campanha de caminhoneiros pela
intervenção militar de “desserviço”
Por Paula Sperb
access_time29 maio 2018, 18h26
- Publicado em 29 maio 2018, 17h05
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General Antônio
Hamilton Martins Mourão (Pedro Ribas/ANPr/Divulgação)
O general
Hamilton Mourão, na reserva desde fevereiro deste ano, disse na manhã desta
terça-feira 29, em Porto Alegre, que é contra a intervenção militar desejada
por parte dos caminhoneiros que estão em greve desde a semana passada. Em entrevista
exclusiva a VEJA (leia abaixo), Mourão disse que intervenção militar não é
“solução imediata”
e
que não é “varinha de condão” que faz “plim, plim” e “está tudo
resolvido”. “O país não tem que ser tutelado pelas Forças Armadas”, afirmou.
Mourão participou de almoço de
militares da reserva no Grêmio Sargento Expedicionário Geraldo Santana. O
general, que já chefiou o Comando Militar Sul (CMS), foi recebido com leitura
de uma poesia, aplausos, pedido de autógrafo e fotografias. Ele aproveitou a
ocasião para angariar apoio ao pré-candidato a deputado estadual
tenente-coronel Luciano Zucco [ainda sem partido porque militares têm prazo
diferenciado para filiação].
Zucco é
um dos cerca de oitenta militares espalhados
pelo país que vão disputar cargos nas eleições de outubro em uma “frente militar”. A frente conta com o general como
divulgador das candidaturas. Recentemente, Mourão se filiou ao PRTB e apoia
Jair Bolsonaro (PSL-RJ) à Presidência. Sua participação na chapa de Bolsonaro
como vice não está descartada. “Caso ele opte que seria melhor me ter como
vice, a gente está aberto a essa possibilidade”, disse à reportagem.
Embora
rejeite a ideia dos caminhoneiros para uma intervenção militar, o general já se
envolveu em polêmicas defendendo a medida
anteriormente. Mourão também criticou o atual ministro da
Segurança, Raul Jungmann, (“é incapaz de saber como se faz um plano”) e o
presidente Michel Temer (“se for passar a mão em cima da cabeça de uma criança,
a criança começa a chorar”).
Abaixo, a entrevista:
Havia
a expectativa de que o senhor saísse candidato à Presidência da República após
sua filiação ao PRTB. Como o senhor decidiu essa questão?
Deixei claro que não seria
candidato. Considero que a candidatura do deputado Bolsonaro (PSL-RJ) é a
candidatura que representa as ideias das quais comungo e bato por elas. Se eu
fosse candidato, iria dividir. A pior coisa nesse momento é dividir o público
que nós temos. Poderiam dizer ‘ah, mas por que o senhor não vai concorrer ao
Senado, como deputado federal?’. Porque considero que o quadro
político-partidário é muito fragmentado e o capital que eu tenho é o capital
moral e não posso desperdiçar uma eleição dessa natureza.
Mas
o senhor pode sair candidato a vice-presidente em uma chapa com Bolsonaro?
Hoje a ideia é que o Bolsonaro
tenha um vice oriundo do meio político. Até pela questão das composições que
ele tem que prosperar. Caso ele não consiga ou decida que seria melhor me ter
como vice, a gente está aberto a essa possibilidade.
Então
há chance de o senhor compor uma chapa com Bolsonaro?
Existe a possibilidade.
O
senhor falou em capital moral. De que maneira o senhor pretende atuar na
campanha eleitoral?
Estou assumindo o Clube Militar
[do Rio de Janeiro], que não é uma instituição só social, muito pelo contrário.
É um clube que participou intensamente da proclamação da República e tem uma
história e uma tradição nas questões da nacionalidade. A partir daí, nossa
ideia, com o grupo que tenho lá, é montar a plataforma de todos os nossos
candidatos militares de forma que tenha uma estrutura coerente e que cada um
deles vá adaptar ao local onde está concorrendo.
O
senhor pode adiantar o conteúdo dessa plataforma? Quais são as ideias?
A plataforma vai tocar no combate
à corrupção, nas reformas que têm que ser feitas para que o Estado efetivamente
possa governar o país, para que o Estado tenha condições de se manter, para que
o federalismo seja realmente implantado. A questão econômica, da disciplina
fiscal. Também a questão de princípios, valores, tradições que estão sendo jogadas
praticamente na lata do lixo. É dessa forma que vamos operar.
O
senhor falou na sua apresentação antes do almoço que 2018 é muito diferente de
1964. Uma parcela da população junto à greve dos caminhoneiros está pedindo
intervenção militar. Qual é o seu pensamento?
No presente momento não vejo que
a solução para o país seja aquela intervenção militar clássica de afastar todos
do poder e a partir daí as Forças Armadas tomarem conta do país. O país não tem
que ser tutelado pelas Forças Armadas. O que as Forças Armadas têm que fazer é
impedir que ocorra o caos. Neste presente momento, essa questão do movimento
dos caminhoneiros [que pede intervenção] está fazendo um desserviço. Esse
pacote aí, de querer provocar uma intervenção, querer provocar o caos, interessa
ao pessoal da esquerda, dessa esquerda jurássica que pensa ‘nós temos que quer
melar o processo [eleitoral]’ porque eles não têm mais candidato. A única
pessoa que eles têm está presa.
O
senhor é contra, então, a intervenção militar?
Dessa forma, sou.
De
que maneira o senhor seria favorável?
Se tivesse que ocorrer, seria o país já sem rumo, sem condições de definir suas prioridades, a sociedade em embate constante, a violência campeando pelas ruas. A partir daí teria que ter uma intervenção, mas a intervenção teria que ser cívico-militar, tem que haver a participação do movimento civil.
É
nesse sentido que o senhor defende uma frente de candidatos militares nessa
eleição?
Os candidatos oriundos do meio militar trazem consigo os princípios e valores que caracterizam aquilo que a sociedade brasileira está buscando. Não são só os candidatos do meio militar que podem representar, eles são uma parcela.
O
senhor acredita que é importante que os militares disputem as eleições?
Acho importantíssimo. Temos em torno de oitenta candidatos concorrendo aos mais variados cargos em disputa. Desde presidente, que é o Bolsonaro, até deputado estadual, como meu amigo tenente-coronel Zucco.
O
senhor está apoiando o tenente-coronel Zucco no Rio Grande do Sul a deputado
estadual. O senhor está fazendo isso em outros estados também?
Sim. Tenho gravado vídeos para os
mais diversos candidatos que temos aí. Na Bahia, tem meu companheiro de turma,
o Guilherme Galvão de Oliveira Pinto, tem no Ceará o coronel Bezerra, tem em
Natal o general Monteiro e por aí vai. Todo mundo me manda mensagem pedindo que
eu grave um vídeo [de apoio].
O
foco dessa frente militar é o Legislativo?
Temos alguns candidatos ao Poder
Executivo, a governador, como o general Paulo Chagas, lá em Brasília. O próprio
general Monteiro, que pode ser candidato a governador no Rio Grande do Norte,
mas o foco maior está no Legislativo.
Qual
é a importância de formar uma bancada de militares no Legislativo?
Em primeiro lugar, a questão dos
valores, dos princípios. Em segundo lugar, é gente que conhece os problemas
brasileiros e vai estar lá representando uma parcela significativa da população
em condição de participar desse processo de reforma e refundação do nosso país,
que é mais do que necessário.
O
senhor falou sobre valores. Essa parcela que pede intervenção militar
compartilha essa visão. Qual é o seu recado aos manifestantes? O senhor
considera que o pedido deles está errado?
O que eu vejo é que essas pessoas
estão em momento de ansiedade porque existe aquele desejo de que a solução seja
imediata, de que a solução ocorra desde já. Daí, esse clamor popular pela
intervenção, como se fosse uma varinha de condão que faz “plim, plim” e está
tudo resolvido, todo mundo limpinho e volta a funcionar da forma como eles
pensam. Na realidade, a população deixou de lado a participação política, as
pessoas vão votar simplesmente porque são obrigadas, porque se não fossem, não
iam.
Tem muita gente que não vai
votar, viaja e justifica ou paga uma multa irrisória. Esse processo, essa situação
vai obrigar as pessoas a entender que têm que participar, que têm que
selecionar bem os candidatos e os partidos aos quais eles pertencem.
Recentemente,
documentos da CIA que mostram que o ex-presidente Geisel autorizava execuções
de seus opositores foi divulgado. O que o senhor pensa disso?
Todo relatório de inteligência
tem um nível de credibilidade. Esse relatório de inteligência estava aberto
desde 2015. Em uma reunião onde participou o presidente da República, o chefe
do Centro de Informações do Exército, que estava saindo e o que estava
entrando, e o chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações), quem delatou o
conteúdo dela para o embaixador americano? Havia um infiltrado da CIA lá? Temos
que botar um grau de credibilidade. Nada do que foi falado era desconhecido. Já
se sabe que no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970 um grupo de brasileiros
orientados e instruídos por centros de irradiação do comunismo internacional,
como a Rússia, Cuba e China, buscou implantar uma ditadura comunista no Brasil.
O estado respondeu violência com violência. Aí você pode me perguntar “houve
excesso?”. Qualquer guerra tem excesso. Não existe fazer uma omelete sem
quebrar os ovos. Eu canso de dizer uma coisa. O Brasil tinha 90 milhões de
habitantes. Do lado das organizações terroristas, morreram em torno de 440
pessoas; do lado das pessoas da ordem, morreram 120. Foram 560 pessoas no
universo de 90 milhões e num período de seis anos. Hoje se matam 60.000 pessoas
por ano no Brasil e ninguém fica escandalizado.
A
segurança é uma das questões que vai pautar essa eleição. Que medidas o senhor
acha que o Executivo deve adotar para diminuir a violência?
O Executivo pode trabalhar em
conjunto com os estados, em plano efetivo de segurança. Muitas vezes se fala em
plano, mas o atual ministro da Segurança Pública [Raul Jungmann] gosta de
encher a boca para falar de plano, mas se mandar fazer plano ele não fala “ré com
cré”, é incapaz de saber como se faz um plano. Então, [tem que ter] um
planejamento e cada estado receberá o seu quinhão dentro do princípio da
descentralização de recursos para, em um primeiro momento, poder equipar suas
polícias, armar suas polícias, valorizar mais a atividade policial com melhoria
salarial e estabelecer o primeiro combate á criminalidade. Mas isso não cessa a
violência. Essas ações têm que ser acompanhadas por outras ações do poder
público nas outras esferas, que sejam educação, saúde e infraestrutura.
Qual
sua opinião sobre a gestão do presidente Michel Temer (MDB)?
O presidente Temer iniciou sua
gestão com excelentes ideias, que deveriam ser implementadas face ao desastre
econômico que nós passamos sob a tutela da dupla Lula e Dilma. No entanto, ele
e os demais executores dele estavam atolados, não digo até o joelho nem até a
cintura, mas até o peito lá no lamaçal da corrupção. A partir daí, não tinha
credibilidade para levar adiante suas boas intenções. Esse é o grande problema
dele. E falta a confiança da população. Além de ele ser uma figura que não
transmite simpatia para ninguém. É aquele que se for passar a mão em cima da
cabeça de uma criança, a criança começa a chorar.
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