Internacionalização
dos preços dos combustíveis, aplicada por Parente, é criticada por
especialistas
GABRIEL
VASCONCELOS (gabriel.vasconcelos@jb.com.br), Jornal do Brasil
27/05 às 10h46 - Atualizada em 27/05 às 14h59
27/05 às 10h46 - Atualizada em 27/05 às 14h59
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Em razão dos seis dias de greve dos caminhoneiros,
a rígida política de preços internacionalizados da Petrobras voltou ao centro
do debate. Há um ano, a companhia reajusta diariamente os valores cobrados pelo
litro do combustível em suas refinarias. O diesel subiu mais de 59% no período.
A gasolina não ficou atrás e foi apreciada em 58,7%. Tratada por Pedro Parente,
o presidente da companhia, como uma condição para a sua permanência, essa
política tem sido questionada por analistas do setor, pela oposição do governo
e até membros da base aliada.
O JORNAL DO BRASIL ouviu especialistas que divergem
sobre a estratégia, mas são unânimes com relação aos equívocos de sua aplicação
diária, o que tira a previsibilidade de custos dos consumidores, ponto
especialmente sensível aos transportadores de cargas. Grande exportadora de
petróleo pesado, a Petrobras importa óleo fino e derivados, comprados em dólar
e submetidos à variação do mercado internacional. Por isso, alega que a
paridade de preços é fundamental para competir no mercado interno. Com as
tarifas mais altas, a empresa geraria as divisas necessárias às suas
importações e garantiria balanços saudáveis.
Paulo César Ribeiro, ex-engenheiro da Petrobras e
consultor legislativo da Câmara e do Senado, argumenta que, embora verdadeira,
a questão das importações seria resolvida se os órgãos reguladores
condicionassem as exportações do petróleo cru ao aumentando das atividades de
refino, hoje praticamente monopolizadas pela Petrobras e funcionando com apenas
75% de sua capacidade. “O custo médio de refino da Petrobras é baixo,
inferior a US$ 3 por barril, e muito menor do que o registrado no exterior”,
argumenta.
“O problema é que a extração e exportação é muito
mais lucrativa para os acionistas do que o refino. Há um plano claro de abandono
de negócios diversificados” aponta Ribeiro, que lembra a venda de ativos como a
Petroquímica Suape (PE), os gasodutos no Sudeste e a TAG, que faz o mesmo no
Norte e Nordeste, além da descontinuação da produção de fertilizantes. “O
Brasil deveria caminhar em outra direção para se tornar autossuficiente em
refino”, completa.
Com o lápis na mão Ribeiro diz que o custo final de
produção e refino, incluído custos administrativos e de transporte fica em US$
40 por barril. Com o dólar a R$ 3,70 e, considerando que o barril tem 158,98
litros, o custo médio de produção do diesel seria de apenas R$ 0,93 por litro.
Antes de anunciar a redução de 10% no preço do
diesel por 15 dias, a Petrobras praticava preço médio nas refinarias de R$ 2,33
por litro. Para o consultor, isso garantia margem de lucro de 150%. Após
a redução, com o preço do diesel rebaixado a R$ 2,10, essa margem cairia para
126%. “Ainda é um lucro altíssimo. Então não é razoável que a União subsidie a
Petrobras em quase R$ 5 bilhões até o fim do ano”, afirma.
Ex-executivo da Petrobras e atual vice-diretor do
Instituto de Energia e Ambiente da USP, o professor Ildo Sauer concorda.
“Trata-se de um receituário neoliberal que só beneficia os acionistas e ignora
os outros interessados, a saber, o consumidor final e a população, que nem
sempre se confundem”, comenta.
Tratada por Pedro Parente como uma
condição para a sua permanência, essa política tem sido questionada por
analistas do setor, pela oposição do governo e até membros da base aliada
Sauer se recusa a tratar a política de Parente como um ponto fora da
curva. “Esse barril de pólvora começou lá atrás, quando o Fernando Henrique
(Cardoso) abriu o mercado de petróleo, com uma lei que previa essa
internacionalização dos preços de derivados. Anos depois, o que este agente
(Parente) está fazendo é aplicar a legislação com rigor.
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