Revelações do
ex-ministro Antônio Palocci, feitas em sua delação premiada, explodem uma nova
bomba no PT e aniquilam os ex-presidentes Lula e Dilma, além de Gleisi
Hoffmann. Ele revela em detalhes a trilha do dinheiro da propina até os
petistas
Na
primeira vez em que ficou frente a frente com o juiz Sergio Moro, em abril de
2017, o ex-ministro e ex-todo-poderoso do PT Antônio Palocci já completava sete
meses na cadeia. Foi quando resolveu dar o primeiro passo em busca de um acordo
de delação premiada. Ao final de seu interrogatório como réu da Lava Jato,
Palocci mandou um recado: “Eu tenho informações para mais de um ano de Lava
Jato e entrego tudo: operações realizadas, nomes, endereços”. Desde então,
Palocci foi condenado a 12 anos de prisão, denunciado mais três vezes pelo
Ministério Público Federal e teve sucessivos pedidos de habeas corpus negados
pela Justiça. Agora, Palocci já está preso há 20 meses. A perspectiva de não
sair tão cedo da cadeia levou-o ao desespero: emagreceu dez quilos e mergulhou
em depressão profunda. Por isso, resolveu escancarar seu explosivo baú de
confidências à Polícia Federal. ISTOÉ apurou que a delação contém elementos
suficientes para dinamitar o PT, partido que ele ajudou a fundar. Suas
revelações, feitas em longos depoimentos à PF em abril, envolvem principalmente
os ex-presidentes Lula e Dilma, a quem acusa de práticas de corrupção
estratosféricas. “A delação de Palocci destrói o PT”, diz um delegado da PF que
participou das oitivas do ex-ministro. O roteiro está concluído e deve servir
de base, nas próximas semanas, para novas condenações dos protagonistas do
esquema. Como coordenador das campanhas que elegeram Lula e Dilma, Palocci
detalhou à PF como eles usaram e abusaram de recursos das empreiteiras, desviados
da Petrobras, para financiar as milionárias campanhas eleitorais e também
utilizar o dinheiro sujo para o enriquecimento pessoal. E tudo armado dentro do
gabinete presidencial no Palácio do Planalto.
A
rota da propina
No
depoimento, Palocci indicou a rota da propina, não se limitando a revelar como
funcionava o esquema de corrupção. Ele citou valores, as empresas que pagavam
as propinas e explicou como o dinheiro chegava às mãos dos petistas.
Detalhadamente. Forneceu até o nome do motorista que fazia o transporte do
dinheiro e as senhas que Lula usava na hora de se referir ao pagamento da
propina. Como não dirigia seu próprio carro, Palocci mandava seu motorista
particular levar os valores. Na delação, o ex-ministro apresentou datas,
horários e locais onde o dinheiro era entregue. Um pacote chegou a ser deixado
na sede do Instituto Lula em São Paulo por “Brani” ou Branislav Kontic,
assessor direto do ex-ministro, num final de semana, fora do horário do
expediente. No total, o ex-presidente, segundo Palocci, recebeu mais de R$ 10
milhões em dinheiro vivo das mãos de Brani. No apagar das luzes de 2010, quando
Lula estava na iminência de deixar o Palácio do Planalto, o assessor
transportou várias remessas de dinheiro vivo ao petista, em quantias que
somavam R$ 50 mil cada pacote. Lula demonstrava discrição. Às vezes, mandava
deixar o malote num local previamente combinado. Em outras ocasiões, escalava
Paulo Okamotto para o serviço sujo.
As
necessidades de lula
Esse
dinheiro, de acordo com o depoimento de Palocci, servia para o ex-presidente
custear suas próprias despesas. Todos os valores milionários estavam
“depositados” na conta “Amigo”, mantida no departamento de propinas da
Odebrecht. A conta chegou a ter R$ 40 milhões para atender as necessidades do
ex-presidente. Os valores só podiam ser movimentados com autorização de
Palocci, o “italiano”. O dinheiro era uma contrapartida à facilitação das
operações da Odebrecht no governo Dilma, com quem Marcelo não tinha boa
relação. Na delação, Palocci conta que, entre o final de 2013 e início de 2014,
sacou da conta “Amigo” R$ 4 milhões para cobrir um rombo nas contas do
Instituto Lula. Dessa vez, o ex-presidente designou Okamotto para cumprir a
tarefa. Não teria sido a primeira nem a última. As expressões “resolve com o
Okamotto” ou “o Okamotto vai lhe procurar” eram a senha para o recebimento da
propina.“O Paulo Okamotto (presidente do instituto) me disse que tinha um
buraco nas contas e me pediu ajuda para resolver”, explicou Palocci. Okamotto
falava em nome de Lula. Autorizado por ele. Sempre.
Além
desses valores, o ex-ministro revelou que Lula fechou com o patriarca da
empreiteira, Emílio Odebrecht, um “pacote de propinas” no valor de R$ 300
milhões para que o ex-presidente e Dilma utilizassem sempre que fosse preciso.
O dinheiro foi usado nas campanhas petistas, sobretudo na de 2014. Os recursos
eram usados ainda para pagar palestras fictícias de Lula. Sua empresa de
palestras, a LILS, recebeu pelo menos R$ 30 milhões de empreiteiras a título de
conferências não realizadas.
Somente durante a criação da Sete Brasil, em 2010, foram desviados R$ 153 milhões, dos quais 50% foram para atender Lula. O esquema foi discutido dentro do Palácio do Planalto, no gabinete presidencial, de acordo com a delação de Palocci. A Sete Brasil foi constituída para produzir sondas de exploração de petróleo para a Petrobras, com a participação da Odebrecht, OAS e UTC. Somente seis sondas da Sete Brasil custariam US$ 4,8 bilhões, com o pagamento de 1% dos contratos em propinas, inclusive para o bolso de Lula, identificado nessa operação como “sapo barbudo” por Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras e dirigente da Sete Brasil. Já tornada pública, a chamada operação Kadafi foi confirmada por Palocci, segundo apurou ISTOÉ. O ex-ministro ratificou que o líder líbio Muamar Kadafi, morto em 2011, enviou ilegalmente R$ 1 milhão para a campanha de Lula em 2002.
Motorista
de Palocci levou pacotes de dinheiro vivo ao Instituto Lula para as despesas
pessoais do ex-presidente. Mais de R$ 10 milhões
A
ex-presidente Dilma mereceu um capítulo especial na memória infalível de
Palocci.
Depois de Lula, a
ex-presidente deposta foi a mais implicada na delação. O ex-ministro confessou
ter participado de um esquema que escoou R$ 50 milhões da Braskem (empresa do
grupo Odebrecht), no processo de renegociação de dívidas com a União. A propina
foi acertada em 2009, num negócio envolvendo o então presidente Lula e o
ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, nos gabinetes palacianos. O dinheiro foi
usado na campanha que elegeu Dilma em 2010. Palocci disse que o acerto foi
detalhado num encontro, com a presença de Dilma, no qual Lula teria falado
abertamente sobre a arrecadação de valores ilícitos para a campanha da sua
sucessora. Dilma não impunha resistência. Agia naturalmente. Dava aval aos
ilícitos. Lula também pediu propinas do pré-sal para campanha de Dilma, segundo
Palocci “Ele (Lula) disse: ‘o Palocci está aqui, Gabrielli, porque ele vai lhe
acompanhar nesse projeto, porque ele vai ter total sucesso e para que garanta
que uma parcela desses projetos financie a campanha da Dilma’.
Outro “projeto” fora montado para irrigar propina para a atual presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT), segundo a delação de Palocci. De acordo com o ex-ministro, o PT havia recebido R$ 50 milhões para ajudar na anulação das provas da Operação Castelo de Areia no Superior Tribunal de Justiça. O dinheiro foi repassado ao partido pela empreiteira Camargo Corrêa, a principal encrencada na operação. Parte da propina foi destinada à campanha da senadora Gleisi.
Além
da delação, para obter a redução de pena e deixar a cadeia, Palocci se
compromete a devolver pelo menos R$ 50 milhões dos R$ 81 milhões que sua
empresa, a Projeto, teria recebido irregularmente entre 2007 e 2015. Nesse
período, a empresa faturou mais de R$ 200 milhões junto a 47 clientes. A
delação foi acertada com os delegados da PF sem qualquer participação do
Ministério Público Federal, o que provocou uma crise entre as instituições. O
MPF considerou os relatos de Palocci insuficientes. A PF, contudo, considerou
que a delação estava estruturada em fatos consistentes, com provas substanciais
e caminhos percorridos pelo dinheiro da propina.
Relaxantes
Agora, o destino de Palocci está nas mãos do desembargador
Gebran Neto, que está prestes a dizer se homologa ou não a delação. Antes de
tomar uma decisão, o desembargador submeteu o acordo ao MPF de Porto Alegre,
sob a coordenação da procuradora Maria Emília Corrêa Dick. O prazo para o MPF
emitir seu parecer terminou na quinta-feira 24. A perspectiva de liberdade fez
Palocci melhorar o humor.
Foi
autorizado pelos agentes da PF a manter um pequeno jardim numa das floreiras
perto de sua cela, onde há sol e chuva. Lá, o ex-ministro cultiva plantas como
lavanda e alecrim, essências que exalam um aroma agradável e possuem
substâncias relaxantes. É o que muita gente do PT vai precisar ingerir, depois
que a delação de Palocci vir à tona.
“Okamotto vai lhe procurar”era uma das
senhas usadas por Lula para combinar o recebimento da
propina
As malas de diamantes de Cabral
PF rastreia dinheiro desviado por Sérgio Cabral e encontra
indícios de que a propina foi usada para comprar a preciosa pedra, depositada
hoje num banco em Nova York. Palocci sabia de esquema
Ao
contrário dos corruptos convencionais, acostumados a guardar propina em mala de
dinheiro, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral criou um esquema
ainda mais sofisticado para camuflar o dinheiro sujo da corrupção. Como os
árabes, Cabral cultivava o hábito de usar os bilionários recursos desviados
para adquirir malas e malas de diamantes. A Polícia Federal suspeita que as
maletas contendo as pedras preciosas estejam depositadas numa instituição
financeira norte-americana dentro de um cofre.
Eram
recorrentes as viagens de Cabral para Nova York a bordo de dois jatinhos: um de
propriedade de Eike Batista e outro cujo dono era Andre Esteves, do BTG. Há
indícios de que o dinheiro para compra de diamantes teria sido transportado
pelas duas aeronaves. Quando pousava em Nova York acompanhado de sua entourage,
Cabral invariavelmente se hospedava no luxuoso St. Regis localizado na 55th
street. Segundo apurou ISTOÉ, o ex-ministro Antonio Palocci era um dos que
tinham conhecimento do esquema. E poderá esclarecê-lo caso haja interesse por
parte do Ministério Público e da PF.
Como se sabe, cerca de 90% dos diamantes nos Estados Unidos entram por
Nova York. A capital norte-americana dos diamantes, que abriga em Manhattan o
Diamond District, entre a quinta e a sexta avenida, só perde em importância
para Antuérpia, na Bélgica, onde são comercializados 80% dos diamantes brutos e
50% dos lapidados no mundo. O bairro cresceu em importância quando os nazistas
alemães invadiram a Holanda e a Bélgica, forçando milhares de judeus
ortodoxos a seguirem pelo caminho dos negócios de diamantes, no intuito de
fugir de Antuérpia e Amsterdã e se estabelecer em Nova York.
A maioria deles permaneceu após a Segunda Guerra Mundial, e
continuam a ser uma influência dominante. Com a investigação, que pode contar
com a contribuição de Palocci, a PF espera encaixar a última peça do
quebra-cabeças do bilionário esquema de Cabral: para onde ele mandou a maior
parte da propina que amealhou. A cada avanço na apuração, a PF reforça a
convicção de que o dinheiro lapidado por Cabral acabou convertido em reluzentes
diamantes.
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