Companhia dos Aposentados

Tribuna dos Aposentados, Pensionistas e Trabalhadores do Brasil

A FÁBULA E O APOSENTADO

Do blog:aposentadosolteoverbo





Era uma vez… Conta a fábula de Monteiro Lobato “Os Animais e a Peste” que num determinado período, no Reino Animal, a peste castigava aquele reinado. Os animais muito assustados, temendo ser a epidemia um castigo dos céus, resolveram criar um tribunal para condenar uma fera ao holocausto. Esperavam com o animal sacrificado e oferecido aos deuses, aplacar a ira divina. O condenado deveria ser entre eles o animal mais cruel, o maior predador, aquele que carregasse nas costas o maior número de pecados.

Todas as feras fizeram suas confissões narrando às maiores atrocidades cometidas. Dentre todos os animais, com feras carniceiras e assassinas, foi considerado culpado um pobre burrico pelo único crime de ter comido uma folha de couve da horta do senhor vigário. Assim, sacrificaram o burrico, apontado como o real culpado pelo avanço da peste. Moral da história: “Aos poderosos tudo se perdoa, aos miseráveis nada se desculpa”, ou ainda, usando outro refrão: “A corda sempre arrebenta do lado mais fraco”.

Exatamente é a mesma coisa que acontece com um terço de aposentados do Regime Geral de Previdência Social, que recebem de aposentadoria mais de um salário mínimo. São considerados os únicos culpados pelo desequilíbrio que juram existir nas contas da Previdência, da mesma forma como o burrico foi acusado de ser o único responsável pela propagação da peste. O crime dos aposentados é receber proventos um pouco acima do piso, o que pode ser comparado ao crime do burrico que comeu uma única folha de couve do senhor vigário. São os aposentados pacatos como o humilde burrico e igualmente indefesos, sem forças físicas e recursos financeiros para se defenderem. E nenhuma autoridade dos poderes públicos tem interesse algum em defendê-los!

É de fato o aposentado o lado mais fraco dessa contenda, fácil de manipular, de ser discriminado, para que possam desviar das contas previdenciárias recursos para outras contas não ligadas aos trabalhadores. Dizem que um desses desvios é para suprir o ‘bolsa família’, o que seria até muito louvável se fizessem o desvio de outras fontes, não prejudicando os aposentados. É o exemplo típico de outro provérbio popular, quando tentam solucionar problemas de modo equivocado: “O uso do cobertor curto, cobre-se a cabeça descobrindo-se os pés.”

O aposentado que deveria ser reconhecido pelo muito que contribuiu para o crescimento do Brasil, é desprezado, humilhado, desamparado por autoridades acomodadas, que deveriam fazer a justiça prevalecer, mantendo sempre a igualdade na distribuição de renda entre trabalhadores ativos e inativos. A cota de sacrifícios, quando necessária, deveria ser dividida de forma igual entre todos os segmentos da sociedade.

Da mesma forma o tempo das vagas gordas deveria ser direcionado para todas as categorias sem exceções. Não se pode melhorar o poder aquisitivo de alguns aposentados, tirando de outros aposentados, que por causa desta política injusta e sem nexo, já perderam mais da metade dos seus proventos. Isto não é correto, não é legal. Faltam inteligência e coerência nesses homens públicos! Enquanto dois terços de aposentados são premiados com aumentos reais do salário mínimo, um terço dos outros aposentados, do mesmo regime, tem o seu poder de compra diminuído por não receberem de reajuste o mesmo percentual dado ao salário mínimo, que sabemos, é o valor mínimo vigente para a circulação da moeda.

* Que setores, principalmente dos poderes executivo, legislativo e jurídico, com seus já abusivos salários, concordariam em ter todos os anos em vez de aumentos reais que tanto cobiçam, somente reduções nos seus proventos? Claro, nenhum! Não querem só a reposição da inflação, mas sim, aumentos verdadeiros no seu poder aquisitivo. Aí não convém o governo mexer com celebridades para não criar confrontos. Vamos continuar sacrificando os aposentados que são trabalhadores inativos e improdutivos, um peso morto para o país. Já se vão 15 anos de discriminação e injustiça.

* Que país é este que pune o trabalhador que se aposenta com um corte na aposentadoria que pode chegar até 40%? É o fruto amargo dado ao trabalhador como presente, chamado de Fator Previdenciário. O tempo de contribuição e o valor dos descontos para o INSS que outrora valiam, agora não valem mais nada!

* Que país é este em que o Congresso promulga dois percentuais diferenciados nos reajustes de aposentados? Seria a mesma coisa se uma empresa sólida, idônea, corrigisse o salário de seus empregados com maior percentual para os que ganham menos, punindo os que ganham mais com percentual menor! Isto nunca poderá ser considerado, oh insensatos, melhor distribuição de renda!

* Que país é este que a Câmara dos Deputados esconde projetos de aposentados e aposentáveis no fundo das gavetas, há muito aprovados pelo Senado Federal? Onde está o entrosamento entre essas duas Casas Legislativas que coordenam as leis do país. Uma discute e aprova projetos, e a outra, não admite nem sequer que constem das pautas de votação.

* Que país é este que empurra seus aposentados para baixo, tirando do aposentado/burrico que ganha um pouco acima do piso, em vez de tirar dos verdadeiros marajás que sugam as tetas do Brasil, com salários milionários? Um país justo e coerente considera suas crianças e idosos como pessoas intocáveis.

É por isso que a história vivida pelo aposentado, sempre esquecido e prejudicado, pode ser adaptada à moral contida na fábula “Os Animais e a Peste”. O nosso Monteiro Lobato deveria estar muito inspirado quando a criou: >Atirou no que viu e acertou no que não viu<.



Almir Papalardo

almirpapalardo@yahoo​.com.br

0 comentários:

Postar um comentário