Companhia dos Aposentados

Tribuna dos Aposentados, Pensionistas e Trabalhadores do Brasil

AÇÕES DESPROVIDAS DA RAZÃO

Movimento Dignidade aos Aposentados e Trabalhadores do Brasil

Oswaldo Colombo Filho - nov./10
Anti- scriptum

“Eu não troco a justiça pela soberba.
Eu não deixo o direito pela força
Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância
Eu não substituo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo."
Rui Barbosa

Prezados amigos do Movimento,

Tal qual a manifestação muito inteligente do jornalista Leandro Narloch, num editorial da Folha de S.Paulo, encontro em suas palavras a melhor forma de expressar-me diante dos manifestos ranços da estupidez que se seguiram às eleições presidenciais. Durante a campanha, não bastaram discursos com expressões baixas como: - “extirpa-se a oposição”; posteriormente o blog oficial da campanha da eleita presidente do país que ostentava a lamentável expressão de que a população de uma região do país classificava os habitantes de um estado de “bestas”. O clima na base do exemplo que deveria vir de cima se acirrou; até que uma jovem através do twiter exagerou em suas citações. Enfim, todos os fatos lamentáveis e que deveriam e poderiam ter sido evitados, não fosse inclusive até o propagandear feito pela OAB de Pernambuco ao intimar através do Ministério Público, e com tamanho alarde para que a jovem supracitada fosse processada. Justo é, mas os doutos quiseram antes de apagar o fogo arrojar um balde de gasolina sobre o que já encandecia. Manchetes em todos os jornais e ânimos mais acirrados ainda num turbilhão de bobagens internet afora; - e como processar agora milhares de pessoas?

A jovem, e faço votos esteja arrependida pelo seu descabido erro, e ao que se sabe perdeu seu emprego. A OAB pernambucana “antenada no disque-disque” do twiter, e naquele momento que obviamente era análogo a um convulsionado jogo de futebol; onde ambas as torcidas faltam com devido respeito à mãe do juiz, fez o que julgou meritório ao defender as “raízes de seu povo” e assim ‘ipsis literis’ se posicionou e esbanjou-se em conclamar-se receber apoio notadamente de outras regionais da OAB e da própria unidade central. Até mesmo registra em seu site que sua atitude heróica repercutiu até no exterior!

Bem como quem tem raiz é vegetal e não sou um - sou um ser humano normal e que enaltece as suas origens pelos seus inegáveis valores e que contesta seus notórios desacertos, tenho forma distinta de entendimento dos “enraizados”. Não vejo gloria alguma em expor o meu país como sendo um lugar xenófobo, pois não é, e nem o povo que nele vive merece uma repercussão generalista dessa natureza. Essa valentia de empurrar bêbado ladeira abaixo ou noção de que seja de algum valor julgar-se guardião da moralidade produz sentido oposto e escuso à moralidade dos brasileiros que não enxergam diferenças de cor, de credo de raça e nem fronteira de estados; pois aqui ainda há muita gente que trata o Brasil como todo, seu solo é contínuo e pátria mãe no sentido solene, e não a progenitora sendo alguém que passe pela presidência. São pessoas que não se vulgarizaram na crença de um presidente mitomaníaco populista que estigmatiza aos berros e em praça pública o factoide mais contumaz de seu governo: - a elite - que não quer que se concedam benefícios sociais aos mais pobres, e como Goebbels, batendo na mesma tecla houve o efeito desejado em que aos incautos a mentira se transformou em verdade.

No embalo disso tudo, um irresponsável jornal, publicou uma foto da moça ao lado da “expressão” a paulista; A jovem, sozinha cometeu um erro grave, e sob notórias
Movimento Dignidade aos Aposentados e Trabalhadores do Brasil
Ações desprovidas da razão.

circunstâncias e que não atenuam o feito; mas deliberadamente os responsáveis pelo jornal fizeram questão de execrar todos os paulistas! Contudo, a atitude do “folhetim” ocorreu em outras circunstâncias, sem atenuantes, num momento posterior, numa decisão colegiada, e refletida por pessoas que deveríamos imaginar serem dotadas de algum senso de responsabilidade. Estamparam um verdadeiro cartaz de “procura-se” - descrição: paulista.

Nesse “folhetim rançoso” sabem-se lá quantos pretensos responsáveis tiveram participação em tal ato de impetuosa bravura! Dimensionaram o risco que poderiam impetrar à jovem, ou a sua família? Certamente dessa verve jornalística não há povo no mundo que precise.

Se triste foi a frase da jovem; deplorável foi constatar que o candidato da oposição era rejeitado na região nordeste por ser do sul, quando lá mesmo, três ou quatro meses antes da eleição sequer sabiam quem era a candidata do Governo. Tudo isso inflado pelo estratagema de manutenção do poder a qualquer custo. A desunião, ou o embate calcado sob o pretexto de se criar falsos inimigos, pretensos descontentes com as benesses que sejam concedidas aos necessitados é o fomento do populismo no seu mais baixo nível e é inaceitável que entidades, jornais e pessoas que se dizem cultas passem a alimentar isso; afinal quantas jovens mais queremos criar com essa verve idiota que se manifesta assim?

Há uma distinção dos que orgulhosamente dizem que são “plantas e tem raízes” e dos que sabem que são seres humanos. Estes últimos têm valores morais, e sabem que a prática delituosa, enganosa e até mesmo a “injustiça que se faz a um é uma ameaça que se ” (‘Montesquieu’); sendo assim não vi tamanho devotamento da nobre entidade faz a todospernambucana em defender o povo brasileiro quando o nobre cidadão pernambucano - Lula da Silva incitou as massas a extirpar a oposição; ou chamar a imprensa de caluniosa no caso Erenice Guerra, e que semanas depois ela mesma confirmou na polícia federal, aquilo que publicamente ele afirmava discursivamente país afora ser mentira.

Tal qual Rui Barbosa não aceitarei a injustiça pela soberba midiática de pretensos doutos, pois é mui conveniente ao fascismo a divisão de classes Se o troféu da OAB pernambucana é a defesa do povo de seu estado que tal formar uma cruzada pela aprovação da PEC 438 que há sete anos está parada no Congresso e que propõe a expropriação de propriedades que se valem de labutadores submetidos a condições sub-humanas de trabalho - a escravidão - que foi abolida em fins do século XIX no Brasil, e que ainda era praticada nas propriedades do nobre deputado pernambucano Inocêncio de Oliveira em pleno século XXI, e já processado pelo Ministério Público do Trabalho por tal prática hedionda. Crime deplorável e que escapa da lei da ficha limpa!

Se isso não bastar, haverá muito por fazer ao que se assemelha à deplorável escravidão; pois segundo o IBGE existem 300 mil crianças no estado, e que deixam de ir à escola para trabalhar - isto certamente não é tratar condignamente seus próprios concidadãos, é condená-los desde a infância ao desterro da ignorância e da subserviência, é colocá-los desde já numa masmorra sem grades e sem muros; mas para libertá-los não surgem arautos e manchetes midiáticas.

A cada passo em sentido errado que esses hipotéticos moralistas dão como diretiva a este país, mais nos afundam no ideário populista que quer perpetuar a distinção de classes, criando falsos inimigos, a maledicência, pois nessa seara criminosa é que se enraíza o populismo, o coronelismo, o obscurantismo moral que assola a nação e propaga o analfabetismo cívico. Movimento Dignidade aos Aposentados e Trabalhadores do Brasil
Oswaldo Colombo Filho - nov./10


São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2010
TENDÊNCIAS/DEBATES
Sim, eu tenho preconceito
LEANDRO NARLOCH

Eu tenho preconceito contra quem se vale de um marketing da pobreza
e culpa os outros (geralmente, as potências mundiais) por seus problemas.

Logo depois de anunciada a vitória de Dilma Rousseff, pingaram comentários preconceituosos na internet contra os nordestinos, grupo que garantiu a vitória da candidata petista nas eleições. A devida reação veio no dia seguinte: a expressão "orgulho de ser nordestino" passou a segunda-feira como uma das mais escritas no microblog Twitter. O racismo das primeiras mensagens é, obviamente, estúpido e reprovável. Não se pode dizer o mesmo de outro tipo de preconceito - aquele relacionado não à origem ou aos traços físicos dos cidadãos, mas ao modo como as pessoas pensam e votam. Nesse caso, eu preciso admitir: sim, eu tenho preconceito.

Eu tenho preconceito contra os cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente. No fim de julho, antes de o horário eleitoral começar, as pesquisas espontâneas (aquela em que o entrevistador não mostra o nome dos candidatos) tinham percentual de acerto de 45%. Os outros 55% não sabiam dizer o nome dos concorrentes. Isso depois de jornais e canais de TV divulgarem diariamente a agenda dos presidenciáveis. É interessante imaginar a postura desse cidadão diante dos entrevistadores. Vem à mente uma espécie de Homer Simpson verde e amarelo, soltando monossílabos enquanto coça a barriga: "Eu... hum... não sei... hum... o que você... hum... está falando". Foi gente assim, de todas as regiões do país, que decidiu a eleição. Tampouco simpatizo com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país.

São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: são a favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam o aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não devem ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro celular dos últimos dois anos. "Olha, hum... tem até câmera!". Para gente assim, a vergonha é uma característica redentora; o orgulho é patético.

Abster-se do voto, como fizeram cerca de 20% de brasileiros, é, nesse caso, um requisito ético. Também seria ótimo não precisar conviver com os 30% de eleitores que, segundo o Datafolha, não se lembravam, duas semanas depois da eleição, em quem tinham votado para deputado.

Não estou disposto a adotar uma postura relativista e entender esses indivíduos. Prefiro discriminá-los. Eu tenho preconceito contra quem adere ao "rouba, mas faz",
sejam esses feitos grandes obras urbanas ou conquistas econômicas. Contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente as potências mundiais, os grandes empresários) por seus problemas. Como é preciso conviver com opiniões diferentes, eu faço um tremendo esforço para não prejulgar quem ainda defende Cuba e acredita em mitos marxistas que tornariam possível a existência de um "candidato dos pobres" contra um "candidato dos ricos".

Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é aquela que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida dos criadores de riqueza. É o caso do Chile e de Cingapura, onde a abertura da economia e a extinção de taxas e impostos fizeram bem tanto aos ricos quanto aos pobres. Não é o caso da Venezuela e da Bolívia.

Por fim, eu nutro um declarado e saboroso preconceito contra quem insiste em pregar o orgulho de sua origem. Uma das atitudes mais nobres que alguém pode tomar é negar suas próprias raízes e reavaliá-las com equilíbrio, percebendo o que há nelas de louvável e perverso. Quem precisa de raiz é árvore.

LEANDRO NARLOCH, jornalista, é autor do livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" (LeYa). Foi repórter do "Jornal da Tarde" e da revista "Veja" e editor das revistas "Aventuras na História" e "Superinteressante".

2 comentários:

E o Senador Magno Malta , quer que analfabeto possa concorrer ao Legislativo. Me perdoem , o Brasil não precisa disso , precisa é da valorização dos professores, precisa de decencia para com a população e do Estado cumprir a Constituição , dando moradia, instrução,lazer e proteção. Se não cumpre corretamente o compromisso constitucional , deveria ter isso sim uma troca Geral dos representantes , sendo os atuais inelegíveis para novos cargos, acho que somente assim a nossa Carta maior seria corretamente praticada.

 

Posso também entender raizes como:
Raízes do Brasil é um livro do historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda.

Publicada em 1936, Raízes do Brasil aborda aspectos centrais da história da cultura brasileira. O texto consiste de uma macro-interpretação do processo de formação da sociedade brasileira. Destaca, sobretudo, a importância do legado cultural da colonização portuguesa do Brasil, e a dinâmica dos arranjos e adaptações que marcaram as transferências culturais de Portugal para a sua colônia americana.

O livro foi escrito na forma de um longo ensaio histórico, tendo sido dividido em sete partes:

1.Fronteiras da Europa
2.Trabalho e Aventura
3.Herança Cultural
4.O Semeador e O Ladrilhador
5.O Homem Cordial
6.Novos Tempos
7.Nossa Revolução
O livro foi publicado originalmente pela Editora José Olympio, tendo sido posteriormente objeto de várias reedições ao longo do século XX. É considerado um dos mais importantes clássicos da historiografia e da sociologia brasileiras.

Raízes do Brasil foi traduzido e editado também em italiano (1954), espanhol (1955) e japonês (1971, 1976), bem como em alemão e em francês.

Através de Raízes do Brasil, que para muitos, junto com "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freire e "Formação do Brasil Contemporâneo”, de Caio Prado Jr., é um livro que apesar de haver mais de 60 anos desde sua primeira publicação ainda é considerado uma obra capital para o compreensão da verdade brasileira e de seus desarranjos que até hoje nos atingem. Seu autor, Sérgio Buarque de Holanda (1902/1982), pai do cantor e escritor Chico Buarque de Holanda, tenta elucidar a realidade brasileira, e as causas de uma certa mal sucedida formação de um espírito progressista no seio das relações sociais da civilização brasileira.

 

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