Companhia dos Aposentados

Tribuna dos Aposentados, Pensionistas e Trabalhadores do Brasil

SETE ANOS


domingo, 10 de março de 2013

Sete Anos

José Carlos Bolognese

Nem para mim mesmo consigo explicar. Contudo, sete anos de um rigoroso inverno nos direitos de milhares de trabalhadores e aposentados, faz-me acreditar que somos residentes indesejáveis de um dos países mais injustos do planeta. Mas, tratados como um estorvo pela União – que deve ser a “união” de interesses particulares de quem manda no país – nem assim perdemos a capacidade de pensar. Quando pensar é tudo que me resta, tentarei dar a visão do que têm sido para mim esses quase sete anos.

O que já me parecia evidente desde muito antes dessa crise Varig/Aerus tem sido fortemente confirmado pelos fatos. Dois pequenos episódios que nada têm a ver com Aerus e Varig, me levam a alguma compreensão do porquê em nosso país fazer o que é certo é a última coisa que dá certo... para quem o faz!

1) No mês de janeiro houve um apagão restrito à minha rua e a umas poucas adjacentes que durou quase doze horas. Quando a paciência já tinha passado muito do limite, aproveitei uma reunião espontânea de moradores e sugeri uma ação conjunta para tentar a solução para esse problema que é crônico na minha área – e não é só na minha, por certo. É claro que todos concordaram e assim passei a recolher nomes e dados para um eventual abaixo-assinado e formação de um grupo que iria à empresa concessionária apresentar nossa demanda. No dia seguinte liguei o computador e pesquisei os nomes importantes da empresa de eletricidade a quem deveríamos nos dirigir. Em seguida fiz um texto relativo ao problema e deixei várias linhas para as assinaturas. Fiz cópias desse texto e as distribuí nas casas das pessoas na esperança de torná-las multiplicadoras da reivindicação, isto é, que cada uma dessas pessoas procurasse a adesão de outras dando ao movimento uma maior consistência. Resumo da ópera, passados quase 60 dias apenas UM vizinho me procurou.

O único consolo que tenho é que fiz política de bom nível e a decepção é que para funcionar, só falta um detalhe, todavia o mais importante: a vontade e a predisposição de lutar coletivamente, acomodando diferenças pessoais e focando no resultado. Nós, os sedizentes “apolíticos”, deixamos tudo para os “profissionais” da política, dispensando-se a partir daqui maiores explicações.

2) Há pouco mais de dez dias um caminhão que transportava refrigerantes quase tombou numa rua não longe de onde moro e deixou cair parte da carga. Quando passei pelo local por volta das 14 horas, duas forças se opunham. A polícia que tentava controlar a situação e uma turba que xingava a polícia porque esta não permitia os saques que queriam fazer. Cerca de 17:30 passei de volta pelo local e pude notar que a situação mudara pouco, com polícia e multidão ainda se enfrentando. Mas pude notar alguns “carentes” que recebem assistência de vários tipos, inclusive alimentar, de uma instituição de caridade onde sou voluntário. Como portavam bolsas para saquear guaraná, pensei em sugerir à “Soberana”, o Bolsa refrigerante. Brincadeira à parte, o que vi são os votos que elegem essas nulidades destruidoras empresas aéreas, entre outras, e matam aposentados de fome.

 Aí está a política dos “profissionais” que nós permitimos existir.

Nesses incríveis sete anos já contamos toda a história do drama dos aposentados e ex trabalhadores da Varig. Mas, se a nossa história flui, mudando para pior a cada ano que passa, sua essência continua a mesma – uma tremenda injustiça. Mas o país – ou a “União, termo que usam quando fingem defender a nação – também foi acumulando fatos e deixando uma história suja a ser contada pelas futuras gerações não contaminadas por ideologias porcas.

Por ser um país dos mais injustos, o Brasil todavia, não é o lar só de gente má. Apesar de nossos baixos indicadores de qualidade de vida em comparação com os de outras nações, o país tem ilhas de qualidade em muitas áreas que nem precisamos destacar. Mas infelizmente essa cultura do melhor nunca chega ao governo e à maioria das instituições encarregadas de fazer o país funcionar. Por outro lado, no nível individual, mesmo pessoas com alto nível de percepção das coisas, se sentem e agem como pequenas ilhotas de um imenso arquipélago e não constroem pontes nem com as outras ilhas (semelhantes) e nem com o continente.

Diante da exuberância demonstrada pela boçalidade imperante é preciso que o lado bom acorde e pegue de volta uma nação que pertence a todos e não a eventuais ocupantes do poder.

Título e Texto: José Carlos Bolognese. 10-03-2013

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