| 
                                                                   Odoaldo Vasconcelos Passos 
                                                                                                                               Aposentado / 73 anos | ||
Uma das  incertezas dos jovens é pensar na crueza e na limitação da vida quando chegar  à terceira idade, se chegar! Nada mais incorreto podem crer. É bacana e  prazeroso ser idoso. É deitar à sombra de uma amendoeira frondosa sentindo a  aragem da vida amaciar o seu desgastado corpo. Até os neurônios já combalidos  pelo constante uso ainda conseguem injetar grandes alegrias e qualidade de  vida aos idosos para compensar a perda do vigor físico, já em processo de  decadência. Os sonhos se multiplicam, a nossa inteligência parece se  revigorar e o nosso bom senso ganha dimensões nunca imaginadas. Quem teve uma  vida passada recheada de valores morais como cidadania, trabalho, amor,  perdão e alguma fantasia não precisa se preocupar com a rabugice e outros  distúrbios próprios da idade maior. 
A terceira  idade é um manancial de conquistas muitas vezes negadas aos mais jovens em  razão da correria destes para vencer na vida. Vejamos algumas dessas  conquistas: ao abrir a televisão nós, os maiores de idade, assistimos com curiosidade  as boas notícias e com desdém as más; nas longas filas dos caixas dos  supermercados não fazemos cara feia e a odiada espera não nos desgastam; ao  atravessarmos uma rua movimentada ajudados pela bengala ou pela mão de um  jovem o fazemos com a mesma alegria de um cãozinho puxado pela coleira. 
A  morosidade dos movimentos, a visão comprometida e os ouvidos surdos tornam-se  uma verdadeira distinção para lhes poupar a azáfama de ver e ouvir tantas  desventuras deste mundo em ebulição. Os idosos não se importam mais em negar  um favor ou emprestar dinheiro, pois não podem mais ser taxados de mesquinhos  ou pão duro; os atropelos da vida moderna não mais os assustam (exceção aos  automóveis que não respeitam a faixa dos pedestres) e muitos outros aparentes  estorvos. Os achaques, as doencinhas e os remédios permanentes não lhes  causam nenhuma inconveniência. 
O sexo não  incomoda mais com as suas incertezas. E, o Sexo não é amor.  O  verdadeiro amor atinge o ápice da qualidade  nessa esplendorosa fase da vida, com as rugas das nossas companheiras já  brotando e a cumplicidade de ainda nos aquecer à noite e nos velar durante o  dia para aumentar o nosso bem estar. A nossa inteligência intuitiva nos  convida a ler muito, escrever uma crônica ou editar um livro sobre a nossa  não menos longa experiência. A única covardia que se fazem aos idosos é  a limitação do tempo que ainda lhes resta para curtir as maravilhas da vida  terrena. Do zero aos oitenta os seres humanos ganham minutos, horas, dias,  meses e anos infindáveis para brigar e sobreviver com galhardia. A partir dos  oitenta vislumbra-se uma sonegação miserável dessa preciosa concessão para o  idoso curtir as suas alegrias. 
A ciência  precisa intensificar as suas pesquisas para encontrar a chave do tempo,  destinada a alargar a faixa da permanência na terra dos homens da terceira  idade para saborearem as delícias desta bela e doce vivência terrena.
José Batista Pinheiro,  aos 84 – Cel Rfm EB

 
 
0 comentários:
Postar um comentário