terça-feira, 22 de abril de 2014
[O cão tabagista conversou com...] Rocha: "Nunca gostei da profissão"
Nome de guerra: Rocha
Onde nasceu? Porto Alegre, nas margens do arroio Dilúvio, na rua São Manoel
Quando começou a trabalhar? Em 2 de fevereiro de 1968
Onde?
Comecei na VARIG em 2 de fevereiro de 1968, na penúltima turma técnica
T18-b, fiz os três anos técnicos e em 1972 fui trabalhar na Seção de
Acessórios. Tenho carteiras técnicas de motores, estruturas, eletrônica e
eletrotécnica, peso e balanceamento, performance, galvanoplastia, e
outras mais, em aviação.
A Varig foi o seu único emprego?
Sim, casei com uma filha de funcionário, as famílias juntas tem mais de
trezentos anos de Varig entre pais, filhos, primos e sobrinhos. Meu
sogro, Ody Figueiró, que trabalhou na Varig por trinta
anos, foi convocado para a seleção brasileira de futebol de 1956 mas não
ficou entre os 22; meu pai e o seu irmão gêmeo, que estão na foto do
meu álbum, foram jogadores do Gefuvar, é uma família Variguiana cheia de
amadores do futebol.
Meu pai é Wilson, meu tio é
Nilson Rocha. Meu pai é o cabeludo, seus apelidos eram Leca Cabeludo e Leca Careca.
|
Iniciei limpando reversíveis de 707. Nos finais de semana lavava as mãos
na soda cáustica, para tirar a fuligem. Terminei o Científico e no
final de 1971 consegui uma vaga para estar na turma de mecânicos de voo
de 1972. Em 1972, com vinte e um anos, fui aprovado e comecei no
Electra-II. Pela conjuntura de crescimento da época, antes de completar
um ano de Electra eu fui promovido ao 707, onde voei por quatorze anos.
Voou o PP-VJA?
Com grande orgulho, mas meu primeiro voo de 707 foi no VJJ.
Havia pernoites maravilhosos e outros ‘tipo perdidos no paraíso’. Eu
acho que ninguém pode dizer que Nova Iorque foi o melhor deles, apesar
de ser do tipo perdido no paraíso, praticamente você ficava sozinho, mas
bate a saudade do Carmine’s, dos teatros, e do steak do Ted’s. Da comida japonesa na segunda avenida, dos Pub’s, e das compras…
Carmine's, foto: Shanna Ravindra |
Nunca gostei da profissão em si, eu queria ter sido advogado, médico,
até professor, mas sempre a exerci com conhecimento e profissionalismo,
no fundo somos todos niilistas, só reclamamos quando pisam em nossos calos.
Por que não gostava da profissão?
Meu maior sonho era Medicina, mas as necessidades de família, meu pai era mecânico de manutenção e nós éramos oito…
Fui para o trabalho, eu não queria ser piloto, ou mecânico de voo, nem atendente de bordo, eu queria ser doutor.
Quero ser bem claro, que não fazia mal meu trabalho, sempre me
considerei excelente, mas não gostava no meu íntimo. Eu nunca tive
aquelas atitudes de arrogância com os hierarquicamente abaixo, nem
desrespeito com os acima, eu achava que deveria ser uma equipe, onde
todos ajudam todos. Eu comparo a tripulação de voo a uma equipe
cirúrgica, o cirurgião é tão importante quanto o anestesista, a
instrumentadora e os enfermeiros. A diferença é que quando o paciente
morre, geralmente a tripulação morre junto, e o cirurgião põe a culpa no
anestesista. (LOL! It’s a joke)
Qual o gênero literário preferido?
Meu caro, ainda hoje devoro livros. Como já apercebeste nas minhas
colocações, sou ateu, e convicto, não gosto que me chamem de agnóstico,
que é um ateu sem convicção. Antes de tudo, o livro sagrado, a bíblia, é
o meu preferido, porque é cheio de contradições e paradigmas, e isso me
fascina.
Adoro Filosofia, a real filosofia, não os charlatães modernos com frases remontadas da história.
Gosto de Epicuro e Nietzche. E minha autora preferida foi Agatha Christie. Já li Sidney Sheldon e seus afins.
Meu
gosto pela leitura começou muito cedo com os livros ZZ7, com a agente
fictícia Brigitte Montfort. Em quase três décadas foram publicadas
exatas quinhentas histórias originais, entre 1965 e 1992, em séries
denominadas vermelha, azul e verde (a cor da logomarca ZZ7 no livreto),
em formato de bolso.
Acho a literatura brasileira muito fraca, meus preferidos são Capitães de Areia, O tempo e o vento, e Meu pé de laranja lima, ou seja, completamente ortodoxo aos literatos comuns.
Meus preferidos em política são O livro verde, de Kadafi, e A dualidade política de Duverger. Sugiro que leia os dois. E por último, um livro muito controverso, proibido em alguns países, “Jesus cristo nunca existiu“ de La Sagesse. Minha opinião é de quem não lê e aprende o contrário, não pode emitir opinião sobre ele.
O conceito de democracia criado na antiga Grécia era tipo um INSS cobrar
impostos dos ativos para sustentar os inativos na velhice. Mao deturpa o
conceito de democracia e sociedade copiando as comunas de Marx
inspiradas nas reduções indígenas dos jesuítas.
Kadafi faz uma genealogia da sua ditadura, no bem social, baseada na
honestidade dos políticos. O conceito moderno de democracia é cuidar do
social e ter um governo honesto, não importando o tipo de regime
político.
Compreendo. Kadafi era um político honesto?
Político desonesto é pleonasmo, acredito que ele fez mais pela Líbia
mais do que qualquer outro, não incomodava, não atacava ninguém.
Durante
o seu governo, a Líbia experimentou alguns períodos de forte
crescimento econômico, por muito abalado pelas sanções impostas por
países ocidentais contra o seu governo. Devido às enormes rendas
provenientes do petróleo, Kadafi sustentou vários programas sociais, a
Líbia teve o maior IDH do continente africano, aumentou a participação
das mulheres na vida pública e deu mais direitos aos negros do que
Nelson Mandela. Durante o seu governo a Líbia teve a menor dívida
pública do mundo. Seus críticos alegavam que Kadafi concentrava boa
parte das riquezas do seu país em suas próprias mãos, tendo uma fortuna
pessoal estimada em duzentos bilhões de dólares, mas nada comprovado.
Kadafi anunciou que seu Estado estava abrindo mão de todos os programas
de construção de armas em 2003 e convidou inspetores internacionais para
que verificassem que ele estava comprometido com isso. O governo
americano removeu a Líbia da lista de países que apoiavam o terrorismo.
Em fevereiro de 2011, frente a protestos pedindo a sua derrocada do poder, patrocinados pela OTAN, deu-se o final.
Seus quarenta e dois anos de governo o fizeram para mim a melhor ditadura do século XX.
Tem ditaduras melhores do que outras?
Vai ser um pouco longo. A democracia foi criada com o intuito de cuidar dos velhos, nunca da liberdade.
Democracia não significa liberdade, veja esses nomes:
República da China, de Angola, de Cuba, entre muitas…
O conceito de liberdade está nestas frases de Rosa de Luxemburgo, por
incrível que pareça uma socialista assassinada pela Gestapo.
“A Liberdade é quase sempre, exclusivamente a liberdade de quem pensa diferente de nós.”
“A liberdade apenas para os partidários
do governo, apenas para os membros do partido, por muitos que sejam,
não é liberdade. A liberdade é sempre a liberdade para o que pensa
diferente.”
Quando perguntamos o que é liberdade sempre dizem que é fazer o que
quiser, ir para onde quiser, dizer o quer-se dizer, mas, infelizmente,
não é isso.
Vejamos os Emirados Árabes Unidos, cada cidadão recebe 1 500 dólares de
pensão do governo, tem saúde de primeiro mundo, estuda onde quiser,
trabalha se quiser, não pode usar drogas, não pode se prostituir, não
pode roubar, não pode matar, não pode votar, é obrigado a cumprir as
leis. E a lei, o governo é o Sheik e seus afins, uma ditadura, um
governo feudal e honesto.
Qual seria o pedido de liberdade de seus habitantes?
Haverão de dizer direitos humanos, mas saúde, educação e segurança não
seriam os princípios básicos dos direitos humanos? Ou vamos aceitar a
definição de direitos humanos aos criminosos e deixar os das vítimas de
lado?
Se o princípio básico da liberdade é o outro. Bem, eu diria que há mais
liberdade nos Emirados que no Brasil. Porém, esse é o meu conceito,
baseado na lógica dos conceitos de democracia e liberdade.
O ilógico de querer usar drogas, prostituir-se, ser homossexual,
achar-se discriminado discriminando, fere a minha liberdade, ou vamos
cometer a hipocrisia de imaginar que não há homossexuais no mundo
islâmico? Há, mas eu perguntaria se é melhor ser homossexual com saúde,
educação e segurança, onde é proibido, ou ser homossexual no Brasil, com
direitos, sem saúde, educação e segurança?
Por isso, é importante definir os conceitos de democracia e liberdade.
Vejamos a democracia brasileira, onde os aposentados são escachados,
deixados de lado, sem saúde, sem direitos, mas os funcionários públicos e
os políticos com aposentadorias integrais gozando da plena democracia.
Que liberdade temos?
O passe livre do idoso, sem passe livre nos hospitais, ou o direito de
perder a vida numa saidinha de banco ao buscar a aposentadoria?
Claro que aceito posições diferentes, mas que usem argumentos coerentes.
Qual seria o melhor tipo de regime para um país?
Eu respondo, que não importaria, se de direita ou de esquerda, se feudo,
reinado ou ditadura, socialista ou conservadora, o que importa mesmo é a
honestidade de seus executores.
Ele, Kadafi, não terá patrocinado redes de terroristas ou os próprios?
Até poderia, mas não há provas, e a história sempre é comprometida por três versões: a minha, a sua e a verdadeira.
Mas… o Atentado de Lockerbie teria sido planejado por agentes líbios…
Durante muito tempo pensou-se dessa maneira, mas este ano, fontes da polícia inglesa levaram o repórter do The Telegraph, Gordon Rainier, a fazer uma reportagem bem condizente com o assunto.
“The Lockerbie bombing was ordered by
Iran and carried out by a Syrian-based terrorist group, a former Iranian
intelligence officer has admitted.
Abolghassem Mesbahi, a defector to
Germany, said Pan Am flight 103 was downed in 1988 in retaliation for a
US Navy strike on an Iranian commercial jet six months earlier, in which
290 people died.
He claims the Ayatollah Khomeini, who
was Iran’s Supreme Leader, ordered the bombing ‘to copy exactly what
happened to the Iranian Airbus’.”
Por isso, a história tem sempre três versões, cabe a nós crer em uma delas.
Você está convicto que todos os políticos são desonestos?
No Brasil existe uma lei:
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício,
ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Isso é prevaricação, nós prevaricamos quando não delatamos criminosos
que conhecemos em nossas redondezas, por medo, porque deixamos de
praticar um ato de ofíco de cidadania. Nossos políticos convivem entre
si, se há honestos prevaricam em benefício próprio.
Há uma tensão permanente na máquina estatal entre as necessidades
transitórias do grupo político que está no poder e os interesses
permanentes do Estado e da sociedade.
A Constituição Federal prestigia o verdadeiro interesse público na
admissão de pessoal em cargos públicos, ou seja, prevê que os ocupantes
desses cargos devem ser selecionados preferencialmente por meio de
concurso público que, além de selecionar os melhores (princípio da
eficiência), evita discriminações arbitrárias, permitindo que os
vencedores sejam admitidos de acordo com critérios objetivos, sem
favoritismos (princípio da igualdade).
Porém, existe uma verdadeira válvula de escape para a satisfação dos interesses de grupos políticos e econômicos: os cargos em comissão.
O fato de a designação de seus ocupantes ser "livre" significa, muitas
vezes, que parentes, amigos e correligionários ocupem esses cargos
apenas em decorrência de suas relações pessoais com aqueles que os
designam. Frequentemente, não se requer que a pessoa tenha qualificação
compatível com o cargo que exercerá. Exemplo disso foi a indicação, para
a direção da Agência Nacional de Aviação, de pessoas que nunca tiveram
experiência nessa área.
E isso, caro amigo, eles chamam de atos discricionários.
É a materialização da canalhice, SIM, SÃO TODOS CORRUPTOS.
Voou Boeing 707 até 1986…
Depois, DC- 10 e Jumbo até 30 de junho de 1999.
Mais treze anos… Estes foram melhores ou piores do que os primeiros quatorze?
Tudo e todo o tempo foi bom, foram vinte e sete anos de voo, com algumas passagens instigantes. Certa vez fizemos um voo VOR “visual over the river”
de Belém para Manaus, a altitude máxima de voo foi 1 000 pés, o
camandante era o Eduardo Barbosa que, infelizmente, faleceu num voo de
demonstração.
Ou pousar em JFK (Nova Iorque) num cargueiro com as luzes de LOW fuel
piscando fazendo um procedimento CAT III com um 707, com um excepcional
comandante chamado Benitez, que suicidou, infelizmente.
Sobre o camandante Benitez há um famoso episódio num cheque de
simulador: Ele fazia os procedimentos de aproximação trimotor ou bimotor
durante aproximações completamente alinhados, não importando o momento
em que as panes eram dadas. A certa altura, o checador, cujo nome me
resguardo de dizer, pediu que ele solltasse o manche para ver se o
simulador não estava em pane. Ele achava inacreditável o fato de um
verdadeiro às da aviação ser tão perfeito.In memoriam.
Eu acho que o pior da aviação era o tal de Buenos Aires, não por causa da Argentina mas pelo horário de trabalho.
Depois, narrarei para você situações caóticas, não darei nomes. Para não
prejudicar ninguém, situações que poderiam demitir-me e situações que
outros poderiam ser demitidos, que felizmente acabaram bem.
Também não gostava do Buenos Aires/Montevidéu… menos ainda do BUE/Santiago do Chile…
Aposentou-se em 1999?
Dia 30 de junho de 1999, fiz o meu último voo, de Tóquio a Los Angeles, no PP-VOB, no final de maio desse ano.
B-747-341, PP-VOB, LAX, 1998, foto: Andy Graf |
Nessa época não se previa o futuro da empresa…
Coincidentemente acabei de postar no meu perfil do Facebook os motivos
da falência. Em 1999 já estava devendo muito, o PDV (Programa de
Demissão Voluntária) foi a única saída. Veja:
Aos viúvos(as) da VARIG...
NÃO FOI A DEFASAGEM TARIFÁRIA A FALIR A VARIG.
Essa é uma desculpa hipócrita.
Nem a cobrança de ICMS, noventa dias
adiantados, dos Estados onde as passagens eram vendidas. Essa talvez
desconhecida de muitos.
Razões absurdas levaram a falência, ei-las:
- O término da relação de reciprocidade, e
a abertura dos céus brasileiros às gigantes da aviação comercial
americanas e europeias.
- A falta de subsídios às empresas
nacionais, onde as taxas de aeroportos e os combustíveis eram muito
superiores ao resto do mundo.
- A cobrança de impostos na importação de peças de reposição para a manutenção de aviões.
Agora um motivo que ninguém fala, ou que o ministro Joaquim Barbosa sequer tocou no assunto da birosca, como ele chamou a Varig:
- Os insumos sociais, os famigerados
encargos sociais. Comparando os preços cobrados pelas gigantes
americanas, de cada mil dólares delas a VARIG pagava trezentos dólares
de encargos sociais.
ABAIXO, ALGUNS ENCARGOS SOCIAIS BRASILEIROS:
Contribuição à Previdência Social (INSS) – 20%
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) – 8%
Salário-Educação – 2,5%
SENAC/SESC – 1,5%
SENAI/SESI –1%
SEBRAE – 0,6%
INCRA – 0,2%
Risco de Acidente do Trabalho (RAT) – 2%
TOTAL – 35,80%
Vocês acham que terminou, claro que não! Vamos a algumas regalias trabalhistas que não são pagas em países de primeiro mundo.
Repouso Semanal Remunerado – 23,19%
Férias + 1/3 Constitucional – 12,67%
Feriados – 4,34%
Aviso Prévio Indenizado – 10,86%
13º Salário – 10,86%
Auxílio-Doença - 15 dias – 1,90%
Licença-paternidade – 0,02%
Total – 63,84%
A nova lei de falências, foi a pá de terra
que enterrou a empresa, inconstitucional, com conflitos de competência,
deixou milhares sem rescisórias trabalhistas, não repeitando os
direitos adquiridos desses empregados.
Fevereiro de 1991 – Supressão da "Terceira
Fonte de Custeio". Já nessa época haviam feitos empréstimos do AERUS
para a patrocinadora que não repassava a totalidade ao instituto.
Janeiro de 1995 – Criação do Plano de
Benefícios II (Contribuição Definida). Para diminuir ainda mais os
repasses cria-se um plano novo, menores contribuições, maiores pensões,
para aliviar a empresa. Esse novo plano criado leva os ativos do plano
inicial, e para os poucos que nele ficaram restaram muitos passivos. E
ninguém desconfia de que com contribuições menores e pensões maiores
forma-se um paradigma matemático, quem pagaria o déficit?
Felizmente, o governo não pagou a
desasagem tarifária à VARIG na época, se a tivesse pago não teríamos,
agora, esperanças para o AERUS.
Se, por acaso, o governo quitar a sua
dívida e vierem a abrir uma nova VARIG, não será nunca a nossa VARIG,
será a VARIG deles, daqueles que sempre viveram às custas de benesses
nesse Brasil onde impera a corrupção.
Se o governo a tivesse encampado seríamos
uma nova Petrobras ou, como os correios, cabide de empregos e lavagem de
dinheiro, emprego garantido, pensão garantida, vivendo do erário, metas
atingidas e os outros que se explodam. Coisas que hoje reclamamos pois
não fazemos parte delas.
Feliz Páscoa a todos...
Veja que o Brasil reclama dos subsídios à agricultura americana. Não
temos projetos de turismo, e hoje a TAM, A Gol e a AZUL estão quebradas.
Em 1999 entregavam a linha de Rio – Tóquio – Rio para a Northwest e American Airlines.
Somos um país de aproveitadores. Se você tem um plano de pensão, que
diminui as contribuições e aumenta as pensões, quem paga o déficit? Foi
isso que aconteceu em 1995 com a criação do Plano II.
Pagaram a dívida os participantes do Plano I.
O que, efetivamente, você quer dizer com "viúvos da Varig"?
Tal e qual viúvos da Panair, houve conluio para fechar a Panair, para
fechar a Real e manter a VARIG, os governos da época fizeram isso.
Os governos pós 1985 acabaram com a VARIG, a empresa da ditadura. O
montante a receber abre uma nova VARIG. Eu pergunto se deixaríamos nas
mãos dos viúvos à espreita. A FRB ainda está ativa, e esperando
administrar uma nova VARIG, ainda há pessoas interessadas nesse montante
que pode chegar a mais de 50 bilhões de reais. Eu não acredito em
teorias da conspiração, mas essa é muito lúcida e presente, a APVAR e a
FRBpar tem litígios pendentes na Vara Empresarial que podem embargar as
negociações sobre o AERUS. Por isso, o Acordo com o governo é o mais
importante ato para nós, nos livramos da VARIG e nos livramos da vara
empresarial.
E quais (quem) seriam as partes que sentariam à mesa para chegar a esse acordo a que você se refere?
O Instituto Aerus e o Governo, somente eles.
Depois da aposentadoria abraçou alguma atividade?
Até 2005 apenas hobbies, depois, com 55 anos, trabalhar em quê?, não restou mais nada.
Não quer nos contar, agora, algumas situações caóticas?
- Tem um voo de DC-10, no Porto, que eu pedi para rever o combustível
pelas réguas, pois a quantidade que saíra do caminhão era menor da que
eu havia calculado. Atrasei o voo uma hora e meia, o comandante disse
que me ia pôr na rua.
Chegaram, finalmente, as escadas para realizar a conferência, faltavam quatro mil quilos de combustível.
Não fui demitido, e ninguém foi responsabilizado pelo erro. A nossa tripulação era de revezamento.
Íamos num cargueiro para Nova Iorque, eu e o grande comandante Benitez
fomos acordados no início da descida, o voo tinha passado o ponto de reclearance
abaixo, ao contactar o controle Nova Iorque estava fechado para pousos e
decolagens para aviões CAT II, e nós não tínhamos combustível para
alternar, Benitez fez um pouso CAT III em JFK.
Decolávamos de Congonhas para Manaus, uma semana depois que proibiram os
mecânicos de voo de conferir o carregamento, pois tinham que chegar
duas horas antes, não deu outra, avião mal carregado não subia,
decolamos a muito custo, se tivesse um palet a mais cairíamos, voamos umas duas horas para pousar de novo.
Eu poderia contar-lhes outros causos, mas seria como contar vantagens,
eu acho que foram decisões acertadas, nas horas corretas, feitas
profissionalmente, e não gosto de prejudicar as imagens profissionais de
ninguém, mas exaltar as dos bons.
Num grupo heterogêneo você tem ótimos, bons e maus profissionais, porque
esse é o princípio básico brasileiro, proteger maus profissionais por
apadrinhamento, parentesco e amizade.
Por isso não quero prejudicar imagens. Fica sempre a ilusão da perfeição, basta ver quantos aviões perdemos por erros humanos.
Não acredito em fatalidades, atrás delas sempre haverá um humano que errou.
Foram fabricadas 1012 aeronaves Boeing 707, 25 tiveram perdas totais e
147 delas em acidentes. Logo 14% das aeronaves causaram 2737
fatalidades e uma taxa de sobrevivência de 24% dentre os ocupantes das
aeronaves acidentadas.
A nossa VARIG de 20 perdeu 35%, VJB, VJR,VLJ VJZ, VLU, VJK E VJT.
A PANAM tinha 137 B-707, perdeu 6.
Não quero julgar ninguém mas os números acima comprovam que usávamos mais a imagem do que a competência.
Os frios números do Boeing 707 na Varig
Os frios números do Boeing 707 na Varig
Você acredita que os ex-trabalhadores da Varig, Aposentados e
Pensionistas Aerus venham, um dia, a recuperar os seus direitos e
benefícios?
Sim com certeza.
Falta a Fundação Rubem Berta vir a cobrir os benefícios para aos quais
ela foi fundada e que consta em suas diretrizes para com todos os
aposentados.
Bom, Rochinha, acho que o papo foi ótimo…
… espero que não tenha comprometido ninguém, são apenas opiniões.
Não guardo rancor de ninguém, apenas fiquei decepcionado com posições
adotadas. Teve uma comissária, muito simpática, que começou comigo no
Electra, e depois mudou radicalmente das posições que tinha, isso é o
que me decepciona nos seres humanos.
Leonel Brizola |
A VARIG acabou.
O AERUS é um perrengue, uma aeronave em emergência tripulada por alguns
omissos do passado. Eu e você apenas passageiros do voo da agonia.
Espero que o aeroporto seguro esteja perto, para fechar o plano de voo,
que já deixou muita gente pelo caminho.
Somos todos egoístas, somos falsos niilistas, lutamos pelo que nos interessa, e aos outros que lutem pelos seus interesses.
A definição correta de NIILISTA segundo Nietzche seria uma pessoa que não se importa com nada, nem mesmo com os seus problemas.
Acontece que nós somos os problemas da sociedade. Somos causas e
efeitos, fazendo-os ou não. Ser ou não ser não é a questão, a pergunta
certa é ser “o” (não é ou) ser.
Obrigado, e feliz dia da Ressurreição. Quem sabe, não ressuscitamos nos próximos dias?
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