Discurso do Senador Cristóvão Buarque...
TRECHOS DISCURSO SENADOR CRISTOVAM BUARQUE A PROPÓSITO DA DERROTA DA SELEÇÃO BRASILEIRA POR 7 A 1
O
Brasil é um país privilegiado. Nunca perdemos uma guerra. A Alemanha
sofreu duas derrotas e rendições em um mesmo século, uma delas faz 100
anos agora, quando perdeu a Primeira Guerra Mundial. Os Estados Unidos
tiveram o trauma de presidentes, se não me engano, quatro, assassinados.
Não tivemos o trauma da França, que foi um país invadido, ocupado
durante quatro anos pelo exército alemão. Nossos traumas se resumem ao
suicídio de um presidente e, por incrível que pareça, outro trauma, 64
anos atrás, em 1950, quando perdemos uma Copa do Mundo para o Uruguai,
no último minuto. Agora, a sensação que nós temos de ontem para hoje é
de um grande trauma nacional por causa da derrota da seleção de futebol
diante da Alemanha por 7 a 1. Mas, jamais nos lembramos de que a
Alemanha tem 102 Prêmios Nobel, nós não temos nenhum. Do ponto de vista
do interesse nacional e das consequências para o futuro, o fato de
estarmos perdendo de 102 a zero para a Alemanha, em prêmios nobel, é
muito mais grave para o País. Nós não nos traumatizamos no dia 14 de
março de 2013, quando foi divulgado o IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) do Brasil, que nos deixou em 85º lugar entre 106 países
analisados, entre os quais os mais pobres do mundo, como o Haiti, os
países africanos, alguns países da América. Entre todos esses 106, nós
ficamos em 85º – quase lanterninha – e não nos traumatizamos. E nos
traumatizamos por sermos o quarto ou até o terceiro em futebol.Nós não
nos traumatizamos no dia 3 de dezembro de 2013, quando foi divulgada a
classificação do Brasil na educação, entre 65 países, ficamos em 58º.
Uma avaliação que analisa 65 países, feita pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Europa, deixa-nos em 58º, e
não houve nenhum trauma. Nós não tivemos o menor constrangimento, o
menor trauma, a menor tristeza, quando, no dia 1º de março de 2011, a
Unesco divulgou a sua classificação da educação.
Para 128 países ficamos
em 88º. E quando a gente fala em 120 países, estamos incluindo aí os
mais pobres do mundo. Aquilo que o jogador David Luiz disse no final do
jogo, transmitido pela televisão, ainda dentro do campo, onde ele,
chorando, disse o seguinte: “Desculpa, por não ter feito vocês felizes
nesta hora”. Você vê que grandeza, ele não disse que estava triste por
não ser campeão, estava triste por não ter feito a nós, os brasileiros,
felizes nessa hora. E continua: “Eu só queria dar alegria para o meu
povo que sofre tanto por tanta coisa”. Esse sentimento vindo dele
confesso que me surpreendeu, quando ele lembra: “Queria dar uma alegria
para esse povo que sofre tanto por tanta coisa”. “Queria pedir
desculpa”, outra grandeza, “só queria fazer meu povo sorrir pelo menos
no futebol”. Quando vi o David Luiz pedindo desculpas, eu pensei: quem
devia estar ali pedindo desculpas éramos nós os Senadores, os Deputados,
os Ministros, os Governadores, a Presidente da República, porque somos
nós que estamos em campo para fazer um Brasil melhor e não estamos
conseguindo chegar nem ao quarto, nem ao décimo, nem ao vigésimo, nem ao
quinquagésimo lugar.
Estamos chegando ao octogésimo oitavo no Índice de
Desenvolvimento Humano. Estamos chegando ao quinquagésimo oitavo entre
sessenta e cinco no índice da educação. Estamos chegando ao octogésimo
oitavo entre cento e vinte em educação, pela Unesco. Nós não pedimos
desculpas, mas o David Luiz pediu por ser quarto ou talvez até terceiro.
O mais importante para o futuro do País não é o campeonato de futebol,
embora esse toque mais na alma da gente. O maior campeonato que estamos
perdendo e que é a base de tudo neste País são as condições sociais, são
as possibilidades de eficiência na economia, a educação e a segurança.
Esses são os campeonatos que devem fazer com que nós brasileiros
trabalhemos para superar. Quero agradecer ao David Luiz, quando ele dá
esta lição para nós: “Eu só queria fazer meu povo sorrir, pelo menos no
futebol”. Você não conseguiu, David Luiz, fazer o povo sorrir no
futebol, mas você conseguiu despertar pelo menos uma pessoa... Para o
fato de que nós não estamos conseguindo fazer o povo sorrir pelas outras
coisas, das quais eu sou um dos responsáveis ...
Desculpa, David Luiz.
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