- As mentiras verdadeiras
Por Ives Gandra
Na
memória dos 50 anos do Movimento de 1964, que derrubou o governo Jango,
tem sido ele criticado pelos que fizeram guerrilha, muitos deles
treinados na sangrenta ditadura de Cuba e que objetivavam implantar um
regime semelhante no Brasil, ao mesmo tempo que se vangloriam como sendo
os únicos e verdadeiros democratas nacionais. Assim é que a própria
Comissão da Verdade se negou a examinar os crimes dos que pegaram em
armas - muitos deles terroristas, autores de atentados a shoppings e de
homicídio de inocentes cidadãos -, procurando centrar-se exclusivamente
nos praticados pelo governo militar, principalmente nas prisões onde
houve tortura.
Com
a autoridade de quem teve um pedido de confisco de seus bens e abertura
de um inquérito policial militar (IPM), nos termos do Ato Institucional
n.º 5, em 13/2/1969; de quem pertenceu à época à Anistia Internacional,
combatendo a tortura perpetrada pelo governo; de quem foi conselheiro
da OAB-SP, opondo-se ao regime, e presidiu o Instituto dos Advogados de
São Paulo na redemocratização, quero enumerar algumas "mentiras
verdadeiras" dos adeptos de Fidel Castro recém-convertidos à democracia.
A primeira é a de que foram os militares que quiseram a derrubada do governo.
Na verdade, foi o povo que saiu às ruas, com o apoio da esmagadora
maioria dos jornais, como se pode ver pelas fotografias do dia 19 de
março de 1964 na Praça da Sé, diante das sinalizações do governo de que
pretendia instalar o comunismo no Brasil. Depois do fatídico 13 de
março, em que Jango incitou os sargentos a se rebelarem contra a
hierarquia militar, até mesmo nomeando um oficial-general de três
estrelas para comandar uma das Armas, os militares apenas atenderam ao
clamor popular para derrubá-lo.
A segunda mentira é a de que a repressão militar levou à morte de milhares de opositores.
Entre combatentes da guerrilha, mortes nas prisões ou desaparecimentos,
foram 429 os opositores que perderam a vida, conforme Fernão Lara
Mesquita mostrou em recente artigo publicado no Estado. Por sua vez, os
guerrilheiros, entre inocentes mortos em atentados terroristas e
soldados em combate, mataram 119 pessoas.
Comparados
com os paredóns de Fidel Castro, que sem julgamento fuzilou milhares de
cubanos, os militares foram, no máximo, aprendizes desajeitados.
A terceira mentira é a de que o movimento militar prejudicou idealistas, que só queriam o bem do Brasil. Em
comissão pelos próprios opositores do governo de então organizada,
foram indenizadas 40.300 pessoas com a fantástica importância de R$ 3,4
bilhões.
Eu
poderia ter requerido indenização, pois o pedido do confisco de meus
bens e a abertura de um IPM contra mim prejudicaram, por anos, minha
carreira profissional. Mas não o fiz, pois minha oposição, à época, ao
regime não era para fazer, mais tarde, um bom negócio, com
ressarcimentos milionários.
A quarta mentira é a de que os democratas recém-convertidos queriam uma plena democracia para o Brasil.
A atitude de "admiração cívica" da presidente Dilma Rousseff ao visitar
o mais sangrento ditador das Américas, Fidel Castro, em fotografia
estampada em todos os jornais, assim como o inequívoco apoio ao aprendiz
de ditador que é Nicolás Maduro, além de aceitar o neoescravagismo
cubano, recebendo médicos da ilha - tratados, no Brasil, como
prisioneiros do regime, sobre ganharem muito menos do que seus colegas
que integram o programa Mais Médicos -, parecem sinalizar exatamente o
contrário. Apesar de viverem sob as regras da democracia brasileira, há
algo de um saudosismo guerrilheiro e uma nostalgia que revela a atração
inequívoca por regimes que ferem os ideais democráticos.
E para não me alongar mais neste artigo, a quinta mentira é a de que o Brasil regrediu naquele período.
Nada é menos verdadeiro. Durante o regime militar os ministros da área
econômica eram muito mais competentes que os atuais, tendo inserido o
Brasil no caminho das grandes potências. Tanto que, ao final, o Brasil
estava entre as dez maiores economias do mundo. Hoje, com o crescimento
da inflação, a redução do PIB, o estouro das contas públicas, o
desaparecimento do superávit primário do início do século, os déficits
do balanço de pagamentos e a destruição dos superávits da balança
comercial, além do aparelhamento da máquina pública por não concursados -
amigos do rei -, o País vai perdendo o que conquistara com o brilhante
Plano Real, do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O
ministro Torquato Jardim, em palestra em seminário na OAB-SP, que
coordenei, sobre Reforma Política (2/4), ofereceu dados alarmantes. O
presidente Barack Obama, numa economia quase oito vezes maior que a do
Brasil, tem apenas 200 cargos comissionados. A presidente Dilma tem 22
mil!
Tais
breves anotações - mas já longas para um artigo - objetivam mostrar
que, em matéria de propaganda, Goebbels, titular de comunicação de
Hitler, tinha razão. Uma mentira dita com o tom de verdade, pela força
da propaganda que o poder oferece, passa a ser uma "verdade
incontestável".
0 comentários:
Postar um comentário